segunda-feira, 19 de setembro de 2016

CONSIDERAÇÃO EXTERNA

Sabemos que existem três linhas de Trabalho :
  • 1ª LINHA: Sobre si – onde a pessoa tem que se conhecer e se sacrificar para aceitar as partes mecânicas e de sonho que existem em seu ser. Deve fazer tudo para ver o funcionamento de seu corpo psicológico. São pessoas que freqüentam as reuniões como Grupo 2, a sua obrigação é não faltar as reuniões e tentar a todo custo entender o que faz e porque faz. Normalmente são pessoas que obedecem as ordens do grupo com limitações de sua vida particular, como: serviço, lazer, praia, mamãe, papai, ovo da páscoa da filhinha, ensaios,e etc. O social predomina em sua vida e o Trabalho de Gurdjieff é apenas um conjunto de momentos de reuniões e novidades espirituais e psicológicas que são interessantes de se fazer, mas que por qualquer motivo pode faltar. Qualquer desculpa é aceitável. O Trabalho de Gurdjieff é mais um afazer de sua vida comum, a qualquer hora pode parar, GRUPO 2.
  • 2ª LINHA: É um outro nível de compreensão, o grupo já é importante para sua evolução, a pessoa começa a entender que sem o grupo nada pode ser feito. Então o valor que ela dá a si mesma, dá também para o grupo, a sua observação de si, também é dirigida aos companheiros de trabalho e a falha de cada pessoa do grupo é também sua. Então seu esforço para acordar é levada pelo interesse de que seus amigos também acordem, para não deixá-lo dormir.

Aqui começa aquilo que chamamos de  Consideração Externa, enquanto a Consideração Interna é pensar e fazer tudo somente para si mesmo, sem pensar no outro. A Consideração Externa é ajudar quem dá oportunidade  de evoluir o nosso nível de consciência, o grupo.
Qualquer pessoa que entre no Trabalho de Gurdjieff tem obrigações a cumprir como vir as reuniões, pagar mensalidade, gastos do grupo, fazer exercícios em grupo, movimentos, trabalhos artesanais, mutirões, etc. Tudo isto é apenas TRABALHO.
A CONSIDERAÇÃO EXTERNA começa no rastro do tigre. Uma manada de porcos ao passar pela floresta faz barulho, vai comendo e destruindo o que não come, deixando atrás de si uma grande marca de sua passagem pelo local, com sobras de comida, escavações em vários lugares, etc. Qualquer um sabe que por ali passou um porco, até de longe dá para se ver.
O Tigre, mesmo caçando um animal e o devorando, não deixa marca, nem o sangue do animal fica no chão. Onde ele passa nem barulho se faz nas folhas secas em que pisa, ele tanto se aproxima e se afasta sem que ninguém o note, somente se estiver igual a ele. Esse cuidado e rastro do  tigre é que uma pessoa com um nível de atenção bom tem que deixar. Esse é o rastro do Tigre. Se não conseguir melhorar por onde passa, não piore.
A marca de um homem de conhecimento é acima do rastro de um tigre, pois ele melhora por onde passa. O porco estraga por onde passa, o Tigre já não estraga e o homem de conhecimento, melhora. São 3 níveis diferentes. Vamos dar um exemplo de uma sala onde todos dormem. Ao se levantar pode não arrumar nada e qualquer um que ver, saberá que ali dormiu alguém, rastro do porco. Se uma outra pessoa arrumar tudo e deixar como estava antes, é o  rastro do Tigre.  Até aqui isso é Trabalho de Gurdjieff, nada mais do que isto. Agora se a pessoa além de arrumar e deixar como estava, der uma limpeza, fazer um café, uma vitamina, para quando o dono da casa se levantar e encontrar a casa arrumada, varrida, isto não seria necessário, não faz parte do porco, nem do Tigre, não é consideração Interna , é aí que entra a 3ª Linha de Trabalho.
  • 3ª LINHA: Consideração Externa. No primeiro Nível a pessoa estava atenta, se observando, observando seus movimentos e tensões musculares e ouvindo os sons exteriores. No segundo além de tudo isto, lembrou-se do local como estava antes, observou-se e também viu fora de si e assim foi mais completo. No Terceiro caso fez-se uma projeção para o futuro e qual e a sua colaboração para isto com outras pessoas. É o nível máximo de observação do trabalho sobre si normal, é o rastro de um homem de conhecimento, busca, mago, etc. que se fez presente. Esta atitude leva a pessoa a ter a possibilidade de fazer um outro tipo mais elevado de Observação de si, o de aperfeiçoar as atitudes para aprender a construir algo além de seu próprio limite. O aprendizado na construção  de outros veículos ( corpos ) se inicia num simples mutirão, cozinha, movimentos, etc. Apenas se observar sem nada fazer é o início de um processo de auto-conhecimento para poder colocar em funcionamento a máquina de nosso corpo que nos é conhecida. A medida em que começa a ampliar este tipo de observação exterior, o praticante pode fazer ou ter atitudes completamente desconhecidas para um observador comum, se preparar para algo que vai acontecer no futuro e quanto mais longe uma pessoa consegue prever um acontecimento, mais acordada está. E este nível de atenção pode ser em qualquer momento da vida, desde um simples almoço em grupo numa mesa ou até numa grande construção, onde cada um deve saber qual é o seu lugar e o que deve fazer, para participar ativamente em qualquer situação.

A presença de uma pessoa acordada é o nível de sua atividade nos acontecimentos em seu redor. Quanto mais participativo uma pessoa, mais acordada naquele momento.
No Trabalho de Gurdjieff ninguém é obrigado a nada, mas o que diferencia uma pessoa de outra é o seu nível de disponibilidade, seu nível de esforço de trabalho, seu nível de observação e seu nível de consideração externa. Repito: No Trabalho de Gurdjieff ninguém é obrigado a nada. A pessoa pode não fazer o que lhe é determinado, mas isso já é um indício de que ela não tem nível de Grupo 1. As pessoas do Grupo 1 são diferentes das outras, porque elas sabem o que tem que fazer, as do Grupo 2 nós temos que pedir e não brigar caso não façam.
O porco está fazendo por obrigação, é o egoísta, só pensa nele e nos seus.
O tigre está fazendo porque é do Grupo 1, sabe que tem trabalho a ser feito para o grupo e o faz.
O mago (ou a bruxa) está fazendo numa preparação para o futuro, faz sem esperar nada em troca, faz o bem por fazer, pode ser considerado Grupo Zero-zero.
Por isso é sempre importante lembrar que uma pessoa pode ser tigre numa determinada situação, bruxa em outra e porco em outra. O que estamos buscando nesse Trabalho de Gurdjieff é fazer com que todos os Eus estejam unidos no propósito de ser um homem de conhecimento ou uma bruxa, que faz parte do Grupo OO, pleno de Consideração Externa.
( Texto lido pelo G1 no dia 31 de março de 2004)


segunda-feira, 12 de setembro de 2016

ESFORÇO SOBRE SI MESMO

Em nossa situação nos defrontamos com a possibilidade de uma revolução interior que pode mudar nosso nível de Consciência.
Como sabemos, as pessoas independente das religiões que seguem ou do modo que vivem podem estar na situação da terceira Consciência (Sono com Sonhos) na hora que estão dormindo na cama. Ao despertar passam a condição de Sono Desperto ou Vigília, que também consideramos como dormindo. Ao levantar de manhã, parte para as tarefas diárias tratando as pessoas bem ou brigando, sofrendo ou sendo felizes, e assim vão até a hora da morte . Tudo ao seu redor acontece não pela sua Vontade, pois não a possui. São fatos que acontecem, como a chuva caindo ou um vento soprando.
Um homem pode desconhecer quase que totalmente seu interior e não possuir nenhum Trabalho interno. Somente em situações fortuitas de perigo ou susto é que podem dar uma acordada por alguns segundos, mas em seguida voltam a dormir, vociferar, xingar e tudo volta a ser como antes (ao estado de Sono Desperto).
Quando fazemos um esforço interno ao nos observar, temos a possibilidade de uma mudança do nível de consciência. Ao perguntarmos a uma pessoa se ela está se observando, ela falará que sim e que conhece a si mesmo. Sabemos que isso não é verdade pois os cinco centros inferiores trabalham desequilibrados. Mas isto é uma grande fantasia que mantém os homens dormindo, achando que estão acordados. Um homem pode estar corretamente fazendo um serviço ou estudo e estar completamente dormindo sem que ninguém perceba. Mas uma pessoa que faz a Observação de Si como um Trabalho, sabe que existem vários Eus diferentes no seu interior e que seu corpo funciona independente da sua vontade.
Quando estamos fazendo um Trabalho de grupo com uma tarefa designada, percebemos que mesmo querendo estar com Consciência de Si, atentos, nos pegamos na situação de sono, e imediatamente tornamos a fazer um esforço para nos mantermos no estado de Consciência de Si. Essa situação é facilmente percebida por um Grupo de Trabalho que queira despertar. Pois ao fazermos os movimentos do Centro Motor, isto é, ao dançarmos as Danças Sagradas, percebemos a interferência do Centro Intelectual e até do Centro Emocional, quando a pessoa acha ruim consigo mesma ao errar, e isto significa um desequilíbrio interior  no funcionamento dos centros. Se a pessoa deixar seu centro motor livre poderá sentir como ele funciona, em qual região ele interfere ou não, além de perceber a força que circula entre o grupo.
Ao fazermos o MOKUSÔ, nos posicionamos em uma situação favorável de sensação do corpo e funcionamento dos centros, até do centro motor, que não satisfeito com a imobilidade tende a se mexer ou arrumar-se constantemente. Os vários Eus vêm e vão nos distraindo no momento presente. Se contudo mantivermos esse estado de Observação de Si, a energia que acumulamos através de nossa vontade, se transformará em momentos de Consciência que um dia poderá ser um corpo existente, independente das funções do Centro Instintivo.
Todo esse esforço para mantermos  uma atenção que sabemos ser a terceira forma de alimentação, é uma forma efetiva de transformação de energia. A nossa Essência dificilmente se manifesta sem que tenhamos um Trabalho nesse sentido pois o aprendizado oral é apenas guardado pelo Centro Intelectual, fortalecendo nossa Personalidade e não aumentando nosso estado de Consciência que só terá um crescimento através de um  esforço sobre si mesmo, que possibilite o aumento da Essência.
As influências que recebemos: A, B e C, podem se tornar algo de bom se não desperdiçarmos nossos momentos sem a devida Observação de Si.
A mecanicidade de nossa vida, a um nível humano, está debaixo de 48 leis e até de 96 em certos casos. Mas, no momento em que nos posicionamos observando simultaneamente nosso interior e exterior, estamos debaixo de 24 leis. Como não conseguimos nos manter por mais de alguns minutos, voltamos a ser mecânicos novamente até um dia que poderemos manter um estado de Consciência de Si.
Esse estado de Consciência de Si pode ser obtido através da prática de diferentes Escolas: Faquir ( através do sacrifício do corpo físico ), Yogue ( através da meditação ), Monge ( através da fé ) e o 4o  Caminho ( através da Observação de Si ). Nós , entretanto, seguimos o 4o Caminho que é um esforço dentro do dia a dia, na peleja da vida.
É um tanto difícil pois nossos companheiros nem sempre estão ao nosso lado e nos identificamos principalmente com as influências A (no serviço, na escola e até na família). Pois na peleja para mantermos nosso nível social equilibrado, esquecemos nosso objetivo de Consciência e a firmeza que temos que ter ao fazer os exercícios diários. Perdemos até na maneira de conversarmos pois achamos que possuímos dons e capacidades que na realidade não possuímos, como Amor, livre-arbítrio e autocontrole.
Aqui vemos a dificuldade que temos em fazer simples tarefas interiores e exteriores. Constatamos fatos no nosso dia a dia que comprovam nosso estado de sono, mas temos a possibilidade de gradativamente perceber como funciona a nossa máquina, que é o nosso corpo.
O nosso nível de conhecimento da nossa máquina determina que tipo de homem somos. Para mudarmos temos que nos colocar em situação de Trabalho Sobre Si, que é a forma de armazenarmos energia em forma de Consciência (Luz) e essa energia não depende das funções do nosso corpo, que é a vida na matéria. Após a cristalização dessa energia o homem adquire aquilo que se chama imortalidade e passa a sua existência a nível planetário e com a continuidade a nível solar, e até mais.
No nosso Trabalho temos como meta o aumento de nossa Consciência que só é possível dentro de um esforço em todos os sentidos.
Primeiro sobre nós mesmos, para nos conhecermos pois o nosso funcionamento interior é exatamente como uma máquina e as nossas atitudes externas podem ser corretas socialmente , mas estarmos em condição bem inferior em relação ao nível de Consciência superior que devemos alcançar.
Segundo, é o Trabalho em grupo para podermos ver através de um esforço coletivo as nossas próprias fraquezas (orgulho, ciúme, vaidade, etc ...) que é mais facilmente visto no próximo do que em nós mesmos, mas o objetivo é verificar o que nos atinge sem julgamento e sem preconceito, de uma forma bem interior na observação das próprias fantasias e sentimentos.

Terceiro é o Trabalho para todos, independente do grupo a que pertence, e isto não é uma ajuda externa, mas comportamental onde temos a possibilidade de um dia termos aquilo que chamamos de Amor, sendo somente possível para quem tem um equilíbrio interior,  conhecido como Paz, onde o alcançaremos com o aumento de nossa Consciência , sendo a Luz que guiará a nossa vida.