sábado, 5 de dezembro de 2015

MUDANÇA DE NÍVEL DE SER

Toda pessoa que está satisfeita com o que é, com o que sabe e com o que faz não tem possibilidade de mudar seu nível de ser. Temos que primeiro acreditar que podemos ser melhores, tanto na compreensão intelectual como no nosso sentimento. Para iniciar temos que fazer observação em tudo o que somos não aceitando como final os dados colhidos. Então vamos dizer que gostamos de um determinado tipo de música; devemos lembrar que isto não é definitivo, mas ao ouvirmos a música, apenas senti-la sem deixar a cabeça interferir; como também o que observamos em nós, e nos outros, Como fruto de algo que já sabemos ou compreendemos.
Temos o costume de agradar certas pessoas e ignorar outras. Devemos observar este sentimento, também, como algo mecânico de distração. Por este motivo, os casais se auto- estimulam neste tipo de situação, quando não estão atentos. A observação de si é algo que requer um esforço de continuidade, para um tipo de armazenamento de energia, que não é comum ao homem. Até nossas conversas, interiores e exteriores, possuem esta mecanicidade; então devemos tratar de todos esses casos como algo a ser estudado, através  de um relaxamento do corpo e da observação imparcial de si. Quando dormimos, isto é, passamos  do estado de vigília para o estado de sono com sonhos, vamos deixando gradativamente, os apegos da vida. Primeiro, deixando aquilo que vemos, por isso fechamos os olhos antes de dormir. Depois, os sons vão ficando distantes até não ouvirmos mais. Neste momento o corpo começa a relaxar. Esse processo de desprendimento também deve ser seguido por nós se quisermos acordar. Devemos ir nos desligando gradativamente, inversamente, de tudo que nos prende.Primeiro tomando uma postura que não seja comum e mantê-la, sentindo o corpo, relaxando os músculos, pois se estivermos tensos com atenção nele ou tencionado propositalmente. Este deve ser seguido por não fixar a atenção em um determinado som , mas nos ouvidos  que recebem todos os sons exteriores, nossos olhos podem até estar fixados em algum ponto, mas a atenção não deve se fixar nele; e dentro de nós, não aceitar as vozes interiores como algo nosso.
Nas reuniões e Gurdjieff, devemos , ao estarmos no local, lembrar porque viemos e o que estamos fazendo; é onde a atenção deve ser de maior intensidade possível; desde os assuntos até aquilo que estamos fazendo deve ser objetivado em aumentar o nosso nível de atenção. Como viemos para um local de trabalho sobre si, não é local para dar continuidade ao chamado esquecimento de si. Os filhos, namorado, marido, amigos, não devem ser tratados como tal, e ao iniciar uma reunião, até o seu término os tratamentos da vida exterior devem ser totalmente abandonados pois, do contrário, permanecemos na mesmice de antes de chegar. É lamentável que nós percamos um tempo precioso com o continuísmo daquilo que somos, pois uma mudança de nível de ser requer um esforço muito maior do que fazemos. Sempre julgamos que estamos fazendo muito, quando na verdade estamos fazendo o mínimo.
Quando nos deparamos com o inevitável, que pode ser desde um simples tropeço até a morte, não estaremos acompanhados; estaremos com nós mesmos. Muitos pensam, erroneamente, que o trabalho tem local. Na verdade, onde quer que estejamos com atenção, devemos nos preparar para o inevitável. Isto não quer dizer que devemos agir friamente com as pessoas que gostamos, ou não. Devemos fazer tudo o que gostamos, mas não esquecermos de nós mesmos em momento algum.  Quando nos depararmos com algo corriqueiro, distraidamente não temos possibilidade de escapar das fatalidades, mas se estivermos com atenção estamos mudando o nosso destino.
O homem como é não tem destino; tudo acontece em sua vida. Uma hora está alegre outra hora está triste, nervoso, bravo, ranzinza, se quisermos deixar tudo isso para trás, um dia, não devemos aceitar nada do que somos naquele momento, e com humildade, deixar o que não conseguimos controlar fora de nós fluir e seguir o seu destino, pois nós estamos construindo com nosso próprio esforço, e o homem comum, na sua distração não pode dizer que gosta de alguém , pois não gosta ainda de si mesmo.

(Itaboraí, 25 de junho de 2003 )