segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O QUE É ACORDAR


CS = Consciencia de Si
FDS = Família, Dinheiro e Sexo
TG = Trabalho de Gurdjieff

Nos Trabalhos de Gurdjieff quase não usamos este termo “Acordar”, pois o nosso objetivo é exatamente alcançar este objetivo e se por um acaso, acharemos que estamos acordado, é um engano, pois esta condição tem níveis diferenciados em cada situação de nossa vida. É fácil para uma pessoa que esteja a um bom tempo fazendo um trabalho de grupo entender o que digo, mas para uma pessoa que  nunca fez exercícios de Gurdjieff ou que fez por pouco tempo se engane e ache que está acordado ou com seu nível de consciência acima do estado de vigília.
Muitas pessoa que chegam ao grupo me dizem que já conhecem estes exercícios de sensação do corpo e que em muitas situações já fizeram e sentiram o que praticamos. O interessante é que no momento que estão falando comigo, não estão fazendo nada para estar presente e mesmo numa situação de movimentos ou Mokuso elas encontram grandes dificuldades em fazer os exercícios, mas mesmo assim acham que estão fazendo e dizem que entenderam o que está se passando em apenas algumas reuniões. O interessante é que estas mesmas pessoas após alguns meses ou anos começam a perceber durante os exercícios que raramente estão presentes e a sua atenção é limitada, restrita a pequenos afazeres, e que diante de si existem várias situações em que ela não enxerga e nem faz absolutamente nada que deveria fazer em relação a atenção que ela deveria ter em muitas ocasiões. Mesmo estando sentindo o corpo e querendo estar com o máximo de atenção, existe uma limitação da própria pessoa, pois seu corpo de CS ainda está em formação. Isto acontece quando o grupo está reunido e todos tem esta finalidade: acordar e permanecer nesta condição de atenção. A todo momento vemos que o esforço dentro do grupo é difícil de se manter em um nível desejado. Agora pergunto : E quando estamos longe um do outro, junto de pessoas que dormem e acham que estão acordadas e que acham que sabem o que fazer, como fica a situação de alguem que está no trabalho? É fácil de se perceber que acontece da pessoa procurar estar presente, mesmo que parcialmente. Mas cada esforço de que fazemos é uma soma para o acúmulo da consciência que dia a dia pode aumentar, até se tornar uma Consciência de Si.
Dentre os vários  Eus  que temos dentro de nós cada eu representa uma força e a soma deles é que produz o que somos na vida. Uma pessoa que está no trabalho de Gurdjieff e se considera firme, que nada o abalará, que seu objetivo é ser imortal etc. mas desconhece que existem  a  força dos Eus  que não estão no trabalho e que somente a própria pessoa tem capacidade de ver e saber de sua existência, mas quando vêem um pouco fogem e procuram justificar seus gostos e até sua compreensão limitada.Alguém está no Trabalho de Gurdjieff porque ainda não apareceu algum tipo de tentação que o tire do trabalho. Pode ser algum emprego cuja remuneração é boa, mas o impedirá de participar de participar das reuniões. Como também algum curso da área que a pessoa dê mais valor do que sua própria evolução. O seu C.G. não é do trabalho sobre si os Eus que estavam adormecidos, podem acordar de repente e ficar até furioso se alguém discordar. Com essas pessoas devemos não tentar mostrar a ilusão em que estão metidas, mas nos afastarmos das idéias dela e observar de longe, sem tentar mudá-las.
Elas não são do trabalho, estavam no Trabalho de Gurdjieff. Quando alguém dentro de si mesmo pode se considerar do trabalho, é pelo simples motivo em que ela descartaria tudo em sua vida para a sua evolução. Seu centro magnético existe e o restante em sua vida que em seu redor, começando com a família, serviços etc, o FDS não lhe atinge.
Uma pessoa pode passar alguns anos sem que apareça uma oportunidade tentadora, mas quando aparece ela ela não tem dúvidas, a sua vida é aquilo, então quando  ela pede uma opinião a alguém, já está decidida a prosseguir em seu real objetivo que acaba sendo outras três forças negativas que tira a maioria das pessoas do Trabalho de Gurdjieff. Então o acordar passa a 2º plano e seu sono vira acolhedor e gostoso.

A soma de nossos momentos é o nível de nossa vida.
Muitas pessoas acham que os exercícios do Trabalho De Gurdjieff somente tem valor quando  é de grande sacrifício físico ou mental. É um engano a pessoa pensar que somente consegue alguma coisa se fizer um esforço grande e contínuo durante anos se os seus momentos foram de sacrifício durante a vida. Algumas pessoas entram para o Trabalho De Gurdjieff, trabalham e fazem coisas muito melhor e com mais aparência do que uma outra que já está a anos fazendo a mesma coisa. Se alguém olhar, vai ter uma idéia errada de nível de ser. Essas pessoas são passageiras e sem determinação e a qualquer obstáculo do FDS a pessoa terá toda razão para parar tudo e não fazer absolutamente mais nada para adquirir um outro nível de consciência.
Em uma reunião, se perguntarmos a qualquer um se o Trabalho De Gurdjieff é bom, prontamente responderão que é a melhor coisa da vida e que jamais deixarão de fazê-lo e se olharmos a pessoa naquele momento, até poderemos nos enganar pela maneira da pessoa falar e fazer. Até a própria pessoa se achará melhor do que as pessoas do grupo que tem mais tempo de treinamento e estudos. É um engano. O que determina um grau, é a  perseverança numa direção, vencendo todos os obstáculos interiores e exteriores, aí é que está a diferença entre as pessoas que trabalham sobre si e uma pessoa comum. Enquanto estas pessoas fazem o que querem, o que gostam e param quando alguma coisa não é como ela quer;  uma pessoa do Trabalho De Gurdjieff persiste e continua a se observar, observa as partes de si mesmo que não quer ter e até se desfaz das partes que gosta mas que lhe faz dormir. Não é pelo que a pessoa acerta ou erra que vemos o seu grau de acordar ou dormir, mas pela perseverança e humildade.
Vamos dizer que alguém perde o controle emocional num determinado momento e em seguida assume novamente, claro que ela lembrará de tudo o que lhe passou e então falará: “dormi muito, não pude me controlar.” – e continuará a fazer exercícios, etc, como se nada tivesse acontecido, mas procurando não repetir o pesadelo que se passou. Esta pessoa tem alguma coisa já acumulada dentro de si que é o fruto do Trabalho De Gurdjieff.
Uma outra não perde o controle, mas por algum motivo vê que houve alguma coisa que vá contra seus princípios que nada mais é do que a cama em que se dorme placidamente. Por este ou aquele motivo parará de freqüentar as reuniões e com o tempo apenas será mais um dos lembrados por nós, como algo do passado.
Firmeza é não vacilar e não parar aquilo que começou.Um outro tipo de sono é ir tão devagar que não dá para ver se a pessoa existe ou não. Aqueles que vem as vezes, outras não, começam algum tipo de trabalho manual e não terminam e assim o tempo vai passando e a pessoa ficando para traz apesar de estar aparentemente junto. É fácil perceber aqueles que defendem princípios e ideais próprios, quem defende não quer ver. Quem quer ver, quando vê algo em si mesmo que alguém mostra, aceita sem contestação e procura trabalhar em cima do que lhe mostraram pois nunca consegue ver sozinho. Quando imediatamente se justifica e tenta explicar o que não sabe nem de si e nem dos outros, procurando dizer que está certo e que é a sua maneira de ver, assim continuará errando na maneira de se observar, isto é, continuará dormindo .Qualquer que seja a correção que algum companheiro faça sobre nossa atitude não interessa se está certo ou errado, devemos parar e nos observar por um longo tempo vários momentos e procurar descobrir como o companheiro conseguiu ver aquilo em nós e nós não. Um grupo não é para elogios pessoais, é para marretar a cabeça que esteja dormindo sem piedade e nem benevolência, quem agüentar é porque está acordando para si mesmo, pois sabe que está ali para isso.
Um grupo existe para que, quando um estiver dormindo, o outro um pouco mais acordado o ajude a se enxergar. Ajudar o companheiro a se enxergar é mais ou menos assim: um companheiro A reclama que comam dentro do seu carro pois não quer que tenha barata nele, mas os outros 12 companheiros sabem que a casa dele está cheia de barata, o seu banheiro tem o chão coberto de carpete onde um homem faz xixi e respinga no carpete, ninguém limpa o carpete, só varre e o cheiro fica insuportável, pois é o dono dessa casa que não quer que comam no seu carro. Outra situação é quando um companheiro está sempre presente nas reuniões, treinos e sessões dizendo que o grupo é a coisa mais importante da sua vida, mas é só aparecer uma moreninha  que chega atrasado nas reuniões, não participa das sessões para poder comer pipoca com sua moreninha e desobedece a etiqueta do karate para que sua moreninha saiba mais que os outros.Temos que tomar muito cuidado também ao observar externamente esses erros, pois isto é fácil de se fazer, devemos é ver esses erros também que nos incomodam criando situações alheias ao Trabalho de Gurdjieff. Num caso desses não devemos ficar quietos, mas também não deixar que estes fatos pejudiquem nossa observação, se tornando meramente social.
Sabemos que temos vários Eus que se apresentam de acordo com a situação externa. Muitos deles se fortalecem formando até grupos unidos que a cada momento de distração vão crescendo, chegando ao ponto de ficar mais forte do que os outros Eus, então a pessoa começa a manifestar idéias contrárias a linha de trabalho. Claro que se perguntarmos a pessoa qual é a coisa mais importante de sua vida, imediatamente ela falará que é oTtrabalho pois este é um tipo de defesa muito sutil que normalmente acontece com as pessoas que não se observam e afirmam ter e ser o que não são.
Algumas pessoas do grupo possuem esse tipo de Eu, que é facilmente visto por mais disfarçado que seja. Quando dois ou mais de um grupo vêem o defeito de uma pessoa é muito sério esta atitude de calar e observar o Eu invisível, pois a pessoa não deve em hipótese alguma justificar ou se defender. Deve calar e ficar em alerta para todas essas manifestações que vêm desses Eus negativos. Se a pessoa não se observar vai chegar a um ponto em que esses Eus negativos assumem o controle da vida da pessoa, até o ponto da pessoa desistir de evoluir e achar que está certo, ficar isolado das outras pessoas até que a vida vem com sua correnteza e a leva para seguir a vida comum.
A primeira atitude que a pessoa tem é começar disfarçadamente a se afastar do grupo de Trabalho com desculpas plausíveis e até lógicas, vai seguindo assim até chegar num ponto insuportável e ela não dá mais importância ao seu próprio destino que antes era a coisa mais valorosa. Uma outra forma perigosa de influência externa é o aparecimento do FDS que vêm de várias formas como se fosse algo acidental e a pessoa acha que se afastando por um pouco de tempo vai conseguir voltar melhor depois, é uma ilusão, pois o afastamento de alguém do grupo de trabalho somente traz enfraquecimento. O fortalecimento do Eu do Trabalho somente existe através da perseverança e continuidade. Se por um acaso a pessoa estiver em uma missão continuará se fortalecendo e isto não é considerado afastamento do trabalho pois isto é um tipo de sacrifício e até mesmo de observação de si ao se deparar com Eus do passado.
No Trabalho não devemos esquecer quais são os nossos objetivos de evolução e as nossas práticas não devem ser prejudicadas pelo FDS, pois podemos até nos enganar achando que a vida está uma maravilha com passeios de praias, shoppings e florestas, mas não podemos esconder de nós mesmos a nossa insatisfação com a condição de sono em que vivemos
Um integrante do grupo tem que ter a humildade de reconhecer que os outros estão certos quando falam a seu respeito e mostram seus defeitos e os outros integrantes do grupo devem observar os erros dos companheiros e não se prender a eles, lembrando de se observar antes de tudo. O Samurai afia a lâmina da sua espada para matar o inimigo, mas se for necessário ele se matará também.
(5 de Novembro de 2003 )