segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O QUE É ACORDAR II




No Trabalho de Gurdjieff quase não usamos o termo “acordar”, pois nosso objetivo é exatamente alcançar isso. Se por um acaso acharmos que estamos acordados, é um engano porque esta condição tem níveis diferenciados em cada situação de nossa vida. É fácil para uma pessoa que está a um bom tempo fazendo um trabalho de grupo entender o que digo, mas uma pessoa que nunca fez exercícios de Gurdjieff, ou que fez por pouco tempo, pode se enganar e achar que está acordada ou com o nível de consciência acima do estado de vigília.
Muitas pessoas que chegam ao grupo me dizem que já conhecem estes exercícios de sensação do corpo e que em muitas situações já fizeram e sentiram o que praticamos. O interessante é que no momento que estão falando comigo não estão fazendo nada para estarem presentes e mesmo numa situação de movimentos ou Mokussô, elas encontram grandes dificuldades em fazer os exercícios. Mas mesmo assim acham que estão fazendo e dizem que entenderam o que está se passando em apenas algumas reuniões. Estas mesmas pessoas após alguns meses ou anos, começam a perceber durante os exercícios que raramente estão presentes e sua atenção é limitada, restrita a pequenos afazeres e diante de si existem várias situações que não enxergam e nem fazem absolutamente nada que deveriam fazer em relação a atenção que deveriam ter em muitas ocasiões.
Mesmo sentindo o corpo e querendo estar com o máximo de atenção, existe uma limitação da própria pessoa, pois seu corpo de CS ainda está em formação. Isto acontece quando o grupo está reunido e todos tem esta finalidade: acordar e permanecer nesta condição de atenção. A todo momento vemos o esforço dentro do grupo e é difícil de se manter em um nível de atenção desejado. Agora pergunto: e quando estamos longe um do outro, junto de pessoas que dormem e acham que estão acordadas e que sabem o que fazer? Como fica a situação de alguém que está no trabalho?
É fácil de perceber o que acontece se pessoa procura estar presente, mesmo que parcialmente. Cada esforço que fazemos é somado para o acúmulo da consciência, que dia a dia pode aumentar até se tornar Consciência de Si.
Dentre os vários Eus que temos dentro de nós, cada um representa uma força e a soma deles produz o que somos na vida. Uma pessoa pode estar no Trabalho de Gurdjieff e se considerar firme, nada o abalará, seu objetivo é ser imortal, mas desconhece que existe a força dos Eus que não estão no trabalho e somente a própria pessoa tem capacidade de ver e saber de sua existência. Quando veem um pouco, fogem e procuram justificar seus gostos e até sua compreensão limitada.
Alguém pode estar no Trabalho de Gurdjieff porque ainda não apareceu algum tipo de tentação que o tire do trabalho. Pode ser algum emprego cuja remuneração é boa, mas o impedirá de participar das reuniões. Como também algum curso da área que a pessoa dê mais valor do que sua própria evolução. O seu C.G. (Centro de Gravidade) não é do trabalho sobre si e os Eus que estavam adormecidos, podem acordar de repente e ficar até furioso se alguém discordar.
Com essas pessoas devemos não tentar mostrar a ilusão em que estão metidas, mas nos afastarmos das ideias delas e observar de longe, sem tentar mudá-las.
Elas não são do Trabalho, estavam no Trabalho de Gurdjieff. Quando alguém dentro de si mesmo pode se considerar do Trabalho, é pelo simples motivo de ela descartar tudo em sua vida para a evolução. Seu centro magnético existe e o restante em sua vida está ao redor, começando com a família, serviços etc. O FDS não lhe atinge.
Uma pessoa pode passar alguns anos sem que apareça uma oportunidade tentadora, mas quando aparecer, ela não terá dúvidas, a sua vida é aquilo. Então, quando ela pede uma opinião a alguém, já está decidida a prosseguir em seu real objetivo, que acaba sendo outras três forças negativas que tiram a maioria das pessoas do Trabalho de Gurdjieff . Então o acordar passa a 2º plano e seu sono vira acolhedor e gostoso.

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