quarta-feira, 25 de junho de 2014

Mudança de Grau

 

Geralmente, as pessoas que estão no Trabalho de G. questionam sobre o que devem mudar nelas mesmas.
O Trabalho não exige nem pede nada neste sentido. O comportamento das pessoas de fora do Trabalho tem a mudança como um tipo de melhoria, mas nós não buscamos mudar nada, nem em nós mesmos nem nas outras pessoas.
O quarto caminho é um trabalho sobre si mesmo, interior e não exterior. O que aparece exteriormente é apenas uma pequena parte, um simples reflexo daquilo que estamos fazendo dentro de nós mesmos. Por este motivo não há desculpas para que alguma coisa esteja atrapalhando o nosso sistema de observações pois o objetivo não é mudar nada, visto que não sabemos o que é melhor numa determinada mudança de hábito, como por exemplo : comer muito, fumar, dormir mais de oito horas, etc.
Ao despertar de manhã já temos uma oportunidade de fazer a observação sobre nós mesmos, desde a nossa fantasia dentro da cabeça até a sensação do despertar e ao se locomover para sair da cama já se pode iniciar os exercícios que conhecemos. A soma dos exercícios nada mais é do que essa forma de se usar o conhecimento deles em momentos oportunos, desde os passos que damos até os movimentos que fazemos ou mesmo durante uma conversa ou a sentarmos diante de uma tv.
Se dermos um grau para cada tipo de esforço, podemos dizer que essa pessoa é
  • 1º grau quando faz os exercícios esporadicamente, quando se lembra dele em determinado momento, mas pode apenas lembrar do exercício e não fazê-lo.
  • 2º grau é quando toda vez que lembrar dele conseguir fazê-lo durante o dia.
  • 3º grau será a pessoa que não passa um dia sem fazer um tipo de exercício.
  • 4º e 5º grau consegue fazer os exercícios várias vezes ao dia.
  • 6º e 7º  grau podemos dizer que é a pessoa que raramente fica sem fazer os exercícios durante um dia, desde a hora que levanta até adormecer.
           
Existem até 18 graus a nível de trabalho sobre si, e cada um deles é um tipo de capacidade que a pessoa possui. Até o sétimo grau é apenas esforço externo com os exercícios e a partir do oitavo é um trabalho a nível de observação e atitude fora dessa realidade comum a todos. O décimo oitavo grau já possui o segundo corpo que é o astral. Este grau é também conhecido como grau Cavaleiro rosa-cruz  e nós chamaremos de grau de Rosa, que é o homem com a consciência de si cristalizada.
Os exercícios nos proporcionam uma quantidade de energia que se transforma em consciência e quanto mais tempo dedicamos aos exercícios, mais consciência adquirimos. A medida do nível de compreensão e a quantidade de esforço do Trabalho são indicadas pela dedicação na prática do dia a dia, com a quantidade de energia armazenada. Esse tipo de esforço que se transforma em consciência, ajuda a pessoa a Ter força para a continuidade do trabalho sobre si e a leva a se manter desperta em situações adversas que antes de se ter um pouco mais de consciência ela não teria forças para se auto observar. Isto não somente permanece em qualquer momento da vida diária, como também na realidade do mundo dos sonhos,  ou do mundo astral, indicando que o grau é também o nível de ser do homem do trabalho.
Os exercícios que fazemos ou aqueles que não conseguimos fazer, mesmo tentando ou os momentos que flagramos nossas fraquezas, isto é, aquilo que achamos sermos capazes mas, na hora constatamos que não somos capazes, podemos considerar estes momentos como um despertar para a realidade do sonho em que vivíamos,  quando tudo que hoje temos como compreensão é também consciência de si.
É fácil entendermos o que é consciência se usarmos comparações de atitudes de pessoas entre si, tanto durante um esforço coletivo de trabalho, como também fora de nossas atividades. Vou dar um exemplo que aconteceu comigo e as pessoas que me cercam desde alunos, família e amigos: há anos atrás como era a minha vida? Na hora do almoço bebia uma caipirinha ou cerveja e após a refeição um licor e assim foi durante anos em minha vida normal. Até que, observando imparcialmente, comecei a estudar o que é melhor para minha vida e deixar de lado a bebida alcoólica, a hipocrisia e fetiches de fingimento de amigos e familiares, e etc.
Comecei a me dedicar inteiramente ao Trabalho, e o mundo de fora dele começou a me achar estranho, anti-social e etc, exigindo minha presença e apoio, para a vida de ilusões e sonhos em que vivem. O acordar passou a ser uma ofensa para a vida deles e assim pude verificar que o nosso comportamento é totalmente diferente daqueles que não querem o trabalho e não pensam que estão dormindo.
Por isso digo que o trabalho é um esforço daquele que caminha só, pois os amigos que estão no trabalho lutam contra a força colossal do mundo, que existe para nos fazer dormir. Somente queremos controlar e traçar nosso próprio destino e não caminhar para o sono da vida comum. Despertar, acordar, para o destino do homem completo, com todos os corpos que seja capaz de formar com seu próprio esforço, junto daqueles que possuem o mesmo objetivo, que é conhecer a máquina que possuímos (corpo) para poder usá-la como armazenadora de energia superior.

 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

SER ÚTIL



Num grupo há três formas de ser útil para o grupo existir por um tempo desejável até alcançar a sua meta.
Primeiramente as pessoas do grupo devem ser úteis a elas mesmas. Aceitando que sua atual condição não é boa, nem desejável, e que a maneira que estão vivendo pode mudar. Em outras palavras: que seu nível de consciência pode melhorar. Se alguém entra no grupo de Trabalho de Gurdjieff achando que o que sabe é certo ou suficiente, não está querendo mudar nada em si. Com sua condição interior está satisfeita. Caso contrário, se a pessoa acha que nada sabe a respeito de si mesma, se não está satisfeita com suas distrações, tensões, nervosismos, ideias pessoais... e que tudo isso pode mudar, então essa pessoa tem chances de trabalhar sobre si mesma. Esta pessoa é útil tanto para o grupo como para a vida comum. Nessa situação, os exercícios que se passam para ela são executados e seu interesse pode ser observado pelo esforço que esta pessoa faz sobre si mesma.
A segunda forma de utilidade no Trabalho é a utilidade que a pessoa pode ter para o dirigente do grupo. A pessoa pode não fazer um esforço para mudar a si mesma, mas faz tudo para que o grupo continue a existir e para isso serve ao dirigente, que é responsável pelo grupo. O trabalho dessa pessoa com o tempo passará a ser para si mesma, pois ela passou a trabalhar na segunda linha de trabalho, que é para os outros, antes de trabalhar para si.
O terceiro tipo de pessoa não é útil para o grupo e inicialmente pode até parecer útil e dedicada, mas na realidade a pessoa somente quer algo da vida material e nada de mudança interior. A mudança que a pessoa procura é externa, aparente, e quando ela alcança o que quer como carro, casamento, namorado, dinheiro, deixa de pertencer ao grupo. 
Como somos vários eus em diversas situações, devemos sempre observar qual é o direcionamento que damos a nossa conduta interna para uma mudança em nossa consciência. Todos devem fazer algo para que o grupo exista. Cada tarefa deve ser executada, não por obrigação ou dever, como é feito na vida fora do trabalho de Gurdjieff. Digamos que uma pessoa tenha sido designada para datilografar um texto e outra para distribuir esses textos depois de datilografados. Na vida comum o texto somente será distribuído se o datilógrafo fizer primeiro. Aqui, no nosso grupo, não se deve fazer isso. Se o datilógrafo não fizer sua função, aquele que terá que distribuir, terá que ver e fazer o trabalho do outro, pois ele não está trabalhando para o outro e sim para si mesmo e para o grupo. 
Podem ainda haver outras situações. A pessoa designada para datilografar não faz nada, a que tem que distribuir fica esperando e também não faz nada. Uma terceira olha e fala mal dizendo que nenhum deles quer nada com suas obrigações e o quarto que nada tem a ver com isso pega, datilografa e distribui. Este está no Trabalho, os outros três são apenas comuns e não percebem a meta do grupo e nem o seu próprio objetivo no Trabalho. Uma outra coisa também pode acontecer: nenhuma pessoa do grupo se interessa pelo que o dirigente do grupo determinou a fazer. O dirigente então pode datilografar, distribuir e etc... Isto quer dizer que o nível do grupo é baixo, são iniciantes e nem estão na primeira linha de trabalho que é sobre si mesmos.
Fora do Trabalho, os dirigentes têm que exigir que seus subordinados façam seus gostos para que ele alcance seu objetivo e sua meta. Aqui entre nós é totalmente diferente. Os objetivos de cada participante devem ajudar o dirigente a alcançar a sua própria meta, que deve ser evoluir, acordar. Se os participantes evoluírem juntos acompanharão o dirigente através dos anos, caso contrário serão usados e descartados para dar treinamento e conhecimento para o dirigente transmitir para quem realmente se interessa pelo Trabalho.
Em outras palavras, ou o grupo evolui na consciência e nos atos juntos, ou é apenas usado para  quem se interessar em aprender com os erros daqueles que não se esforçaram. Num grupo de Gurdjieff, tudo é útil.  Tanto os que fazem esforço como os que são usados pelos outros. A escolha é pessoal e interior. É como o exemplo da árvore, é necessário haver raiz, caule, folhas, para que haja frutos. A raiz são aqueles que trabalham para o grupo sem aparecer, o caule são os que sustentam o grupo com dinheiro, casa, local, etc. As folhas são aqueles que entram no grupo e saem em seguida por qualquer motivo e o fruto é a meta que se está alcançando com o esforço pessoal de cada um. 
Num grupo de Trabalho não deve haver exigência de atitude, cada um deve ser útil para si mesmo e quanto maior a compreensão mais útil é a pessoa para o grupo. Não devemos nos esquecer disso. A cada momento de observação de si, devemos ver o que representamos para o grupo e o que estamos fazendo para nós mesmos. Que valor tem o Trabalho nesses dois contextos. Minha evolução e a necessidade de existência do grupo. 
A disponibilidade é o nível de consciência que está ligado ao destino de cada um. A pessoa muitas vezes acha que não faz algo pelo grupo, porque ela não quer. Isso é um erro, pois nessa situação é exatamente o contrário. A pessoa não faz porque não consegue, sua capacidade de execução de uma tarefa é limitada pelos seus desejos de auto-agradecimento e reconhecimento exterior, tudo acontece para essa pessoa. Nada vem de si mesmo mas ela se ilude achando que não faz porque não quer, ou não deve, e assim passamos a vida nos iludindo achando que estamos acordados, sem percebermos o tanto que ainda falta para acordar.

(18/10/2000) 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A Força do Trabalho


Um grupo se reúne com a finalidade de trabalhar para o aumento de consciência. A pessoa que pertença a este grupo sente e percebe que seu nível de consciência pode ser mudado. Após alguns esforços sobre nós mesmos, começamos a perceber nossas mecanicidades, fatos emocionais negativos, distrações em geral. Enfim, tudo que nos faz dormir. E neste processo de auto observação, diferenciamos os vários eus da personalidade negativa, que em determinado momento se apresentam com a força total de identificação e não temos nenhuma possibilidade de muda-los, pelo menos no momento de sua manifestação. Mesmo nestes momentos, podemos observa-los e por trás disso esperar passar o fato que o fortalece. Se estivermos com raiva, ou alegres, os dois são as mesmas forças que nos enfraquecem, se não estivermos com a devida atenção. Mas a raiva é de maior intensidade. Isto quer dizer que a raiva nos enfraquece, nos levando ao mais baixo nível de sono.
Quando estivermos fazendo qualquer serviço ou mesmo numa conversa com amigos, ou assistindo a um filme, se nos observarmos veremos que além dos fatos externos, existem fatos internos como vozes interiores, sentimentos, relacionados aos acontecimentos externos. Temos que colocar atenção em duas partes simultaneamente: dentro de nós e fora de nós.
Vamos dizer que uma pessoa esteja falando um assunto que não seja verdade a nosso respeito. Aquele assunto começa a nos atingir emocionalmente e imediatamente as vozes interiores iniciam um debate sobre a razão e o erro da pessoa em relação a nós.
Para podermos entender o que está acontecendo temos que primeiro ter a base em nosso corpo  isto é, relaxar e sentir o que pudermos: rosto, pernas, braços ou, se for possível, todo o corpo. Nesta situação, olhamos a pessoa que está falando ao mesmo tempo que nos observamos, não deixando que as vozes interiores interfiram no assunto, pois se deixarmos as vozes que pensamos ser nós falarem, dar qualquer opinião naquela hora, paramos de ver e nos identificamos com o acontecimento. Devemos ter esse momento como hora de combate entre nossas mecanicidades e o fato que está se desenrolando. Se conseguirmos manter nossa atenção nesses dois sentidos, os fatos que acontecem exteriormente não nos atingirão, apenas serão observados de fora imparcialmente. O que decorre exteriormente é apenas um filme que não poderá entrar no nosso interior. E se somos obrigados a agir ou a falar, tudo acontecerá dentro do nosso controle, sem emoção negativa. Se conseguirmos nos manter nesta situação, estaremos mais acordados, com mais luz.
Vamos dizer que por um momento de distração a emoção negativa assume o controle deste centro. Procuramos imediatamente relaxar o rosto, soltar a tensão dos ombros, olhar as pessoas e ao falarmos não nos defender, e até procurar “dar razão” a pessoa que nos ataca, dando mais fatos sobre o que ela fala, para que ela continue sem controle e nós possamos observar primeiro nós mesmos, depois reverter a situação e elogiar a pessoa que nos ataca pois como ela está dormindo, somente conseguiremos atacar se estivermos também dormindo.
Uma pessoa que dorme não sabe o que está acontecendo ao seu redor, muito menos com ela e quanto mais profundo for o seu sono, mais identificada ficará com os acontecimentos. Para não entrarmos nessa situação de sono profundo, devemos sempre nos lembrar de nosso objetivo de acordar, em qualquer situação.
Me perguntaram se devemos evitar locais que não gostamos,  locais que nos conduzem ao sono. Se pensarmos um pouco, as condições de sono não dependem do exterior e sim de nossa quantidade de energia acumulada como consciência. Se uma determinada pessoa tiver pouca energia dentro de si e ficar isolada no meio de uma floresta, ou num quarto de apartamento, ela não conseguirá aumentar sua capacidade sozinha, terá que entrar no mundo externo e começar a se observar. Sua determinação de acordar a levará a aumentar sua capacidade de observação em várias circunstâncias e com o passar do tempo se tornará cada vez mais fácil, até o momento em que o que acontecer fora de si seja apenas um fato, e não uma calamidade ou ofensa. 
Não devemos evitar nada, mas sim observar e aprender com os fatos que acontecem dentro e fora de nós, não esquecendo que tudo que esteja acontecendo fora de nós pode nos atingir ou não, dependendo de nossa capacidade de observação e consciência. Quanto mais perto das altas esferas, mais perto dos seres superiores e de sua compreensão e nível de decisão sobre tudo que possa acontecer. Estaremos sob menos leis, e nossas atitudes externas e sentimentos interiores serão de grau mais elevado.  Não dependemos para nossa evolução dos acontecimentos exteriores, mas sim, de nossas decisões interiores que se manifestarão exteriormente. Existem forças exteriores negativas que nos levam ao sono, como forças que vem a nós para acordar-nos, depende de nossa atitude interior de auto observação, tanto para usarmos nossa consciência superior, como o abandono de si  para dormirmos mais com os acontecimentos exteriores.
A força que adquirimos com a luz, consciência, mudará gradativamente nossos sentimentos até formar uma força  que não depende de nada exterior, material, para continuar sua existência.