quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Saber e Ser



O SABER E O SER
O conhecimento é algo que cai no Centro Intelectual e cria a ilusão que o homem tem o saber. De uma maneira comum uma pessoa adquire um conhecimento através de livros, cursos e observação exterior de acontecimentos. Tudo isso alimentará a Personalidade que necessitamos para ter uma vida normal com a sociedade. Vamos dizer que uma pessoa adquire  um saber de marcenaria ou de pintura a óleo. Ele compra livros e começa a treinar, logo vai verificar que apesar de ter lido, visto e observado, não vai conseguir executar quase nada, vai serrar torto, pintar lambuzando toda a tela e pode até perceber que não consegue nem pregar um prego. Apesar de ter lido vários livros e perguntado para várias pessoas como fazer. Se ele insistir e continuar apesar de errar, com o tempo os erros vão diminuindo, significando que seu conhecimento que era teórico, está passando a ser prático, em outras palavras de simples conhecimento está passando a ser saber. O homem é o que sabe, não o que conhece. Uma outra forma é a seguinte: Apresento um amigo a várias pessoas numa festa  e depois de um tempo todos passam  a conhecer o Toninho. Mas eles não sabem quem é o Toninho, apenas o conhecem. Eu sei que ele é pintor, poeta, não é ladrão e gosta de doces e chá.
O saber é um nível acima do conhecimento e também o próprio saber tem níveis diferentes que podem mudar o ser das pessoas.
Uma pessoa pode ter um saber igual à outra e seu nível de ser pode ser muito acima. Dois carpinteiros podem ter o mesmo saber sobre a sua profissão. Um deles, o A possui um equilíbrio interior, não se exalta, é paciente e o dinheiro que ganha o gasta moderadamente para não lhe fazer falta. O outro, B, é um exaltado, impaciente, e sempre se mete em dificuldade financeira e etc. O A tem amizade com seus vizinhos  e o B, nenhum de seus vizinhos gostam dele, é um sujeito mal visto.
Aqui no trabalho de Gurdjieff o mesmo acontece. Duas pessoas recebem o mesmo exercício de psicologia para se fazer uma observação de si. Um deles quando está perto de outros amigos, por algum motivo se exalta e quer brigar, esquecendo os exercícios de auto-observação naquele momento e coloca seu conhecimento limitado, cheio de rancores, orgulho, vaidade, ciúme acima daquilo  que se propõe para elevar seu nível  de ser que é uma observação imparcial de si mesmo. Um outro, quando as coisas não acontecem como ele quer, se observa, fica calmo e colhe na prática uma observação de si que pelo menos naquele momento o coloca acima de seu próprio limite.
Em dado momento nos vem uma influência de alguém, imediatamente as vozes interiores baseadas em nossos conceitos mecânicos, nos domina passamos a responder ou não aquilo  que nos foi dito ou o que vemos. Neste momento podemos escolher ou sermos o que sempre fomos, desta maneira nada mudará, nem nossas idéias, sentimentos e acima de tudo nossa compreensão se estiver em zero, neste número continuará, mas caso contrário, se decidirmos não reagir mecanicamente, relaxamos nosso corpo, observamos nossos sentimentos e até nosso conceitos e pré-conceitos  e não reagimos, apenas observamos, nada mais ao dar respostas a uma conversa procuramos o Centro Intelectual e a razão baseada na observação do fato e não nos conceitos que sempre tivemos, como ponto de vista, penso assim, sou assim, gosto disso, não daquilo e etc.
Toda a pessoa que decide mudar, tem que sacrificar suas fraquezas, aquilo que o faz dormir, ser o mesmo que sempre foi. Agora se a pessoa entra nos Trabalhos de Gurdjieff e se considera perfeito, correto e satisfeito com o que é, deve parar de se enganar que quer mudar seu próprio nível. Aqui em nosso trabalho, queremos ser outra pessoa, não estamos satisfeitos com o que somos, nem com a vida que levamos. Queremos outra forma de encarar a vida, outra consciência, por isso tudo o que achamos correto ou errado devemos observar imparcialmente. Apenas observar, não julgar. Nem o que somos e nem o que nossos companheiros dessa jornada são.
Num grupo, uns gostam de cigarro, outros de bebidas alcoólicas e um terceiro de falar muito, um quarto de ficar calado, etc... Todos devem sempre lembrar  que aqui estamos para mudar nosso conceito de vida, e não como um clube social onde devemos seguir regras de comportamento, etiqueta e moralidade. Aqui no nosso grupo não nos importamos com o que as pessoas pensam ou agem em sua vida. Para nós o que importa é o objetivo de acordar, ver, sentir, perceber, estar presente nas atividades e exercícios nada mais. A meta a ser alcançada pode até estar longe, mas o caminho a seguir sabemos qual é.  E a nossa conduta externa pouco importa, pois o nosso interior deve sempre estar atento. A mudança do ser não se baseia no comportamento das outras pessoas, muito menos do que elas fazem ou pensam. O importante é estarmos sempre presente sacrificando nossas fraquezas que acumulamos durante nossas vidas. Todos aqueles que estiverem no grupo de Gurdjieff é um companheiro de Trabalho e deve ser respeitado em suas fraquezas pois se fossem fortes não precisaríamos de grupo nem de consciência. A luta é interior e ininterrupta, sem trégua, caso contrário nada alcançamos.
(11/09/2000)



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