sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Como se Observar





Comumente as pessoas acham que tem atenção e que estão conscientes, isto é, acordadas. Para se entender o Trabalho de Gurdjieff a pessoa tem que ter praticado vários tipos de exercícios, em certos casos até extenuantes senão não terá nem idéia do que é observação de si ou lembrança de si. Todas as pessoas acham que a sua compreensão é igual a dos outros, mas se esquecem que cada idéia contrária ou opinião própria significam que há níveis diferenciados de consciência e com isso, compreensão.
Digamos que num sítio onde há várias árvores frutíferas, piscina, etc, chegam 3 pessoas: um poeta, um arquiteto, uma criança. Depois de irem embora se perguntarmos o que viram cada um falará de acordo com a atenção que tem naquilo que lhes atraiu mais. Todos tem atenção normal que o mundo exige para uma existência comum. Mesmo que alguém vá até um local com a finalidade de por atenção em tudo que for possível, não terá atenção do grupo de Gurdjieff que tem como objetivo um aumento de consciência. O arquiteto colocará a sua atenção na construção; o poeta ouvirá o canto dos pássaros e nas árvores e achará tudo lindo e sossegado; a criança se lembrará das frutas e da piscina. Tudo se baseará fora da cabeça ou das emoções sem linha de retorno para se próprio, aí estará a diferença de uma atenção dirigida em duas setas: uma para fora e outra para dentro de si mesmo, com um observador em terceiro plano. Um homem do Trabalho de Gurdjieff saberá que para se ter um nível diferenciado superior a si mesmo terá que por para funcionar 3 centros simultaneamente a sua atenção terá que estar dirigida para fora e para dentro ao mesmo tempo.
 Uma pessoa está usando uma enxada, capinando e procurando sentir seu corpo e colocando sua atenção nos pontos que estão dentro de seu campo visual e na sua cabeça vêm opiniões sobre o acontecimento como forma de imaginações (vozes interiores): “Como está calor!”, “Como estou sofrendo!”, “O meu companheiro está enrolando!”, etc...Nessa situação esta pessoa apesar de estar sentindo calor e achar que está fazendo algo para si é uma pessoa comum, nada está fazendo ou quase nada para si mesmo.
Ele teria que além de estar fazendo o trabalho, estar com atenção não somente em seus movimentos, mas também no de seu companheiro ao seu lado, não para criticar com  o centro intelectual, mas para apenas olhar e saber o que está acontecendo com ele e com os outros. A sua atenção está em si mesmo e simultaneamente ao seu redor. Verá o que está acontecendo em seu interior, como fantasias em sua cabeça, vozes interiores, opiniões, idéias pré-concebidas, enfim, tudo o que apareça em sua cabeça e em seu sentimento formando sua falsa personalidade. No mesmo momento estará observando externamente se o que está fazendo está certo, bem feito ou errado, assim como sua atenção estará em todo o seu redor, se um companheiro ou amigo tiver alguma dificuldade e precisar de ajuda, estará ali antes de ser chamado ou solicitado, pois  estará presente tanto dentro de si como fora. Quando alguém for passar, não esperar pedir licença e ao ouvir algo estará sabendo o que está acontecendo. A partir desse fato, dentro de sua cabeça cessarão as vozes interiores e ele será apenas observador, podemos chamar isso de ESPREITA . Seus movimentos e sua atitude por fora serão normais de acordo com o que esteja fazendo e por dentro somente sensação e presença real do trabalho sobre si sem nenhuma forma de julgamento, pois não deixou lugar para isso.
Digamos que estamos conversando com alguém, ao escutarmos estaremos deixando aquilo que nos chega como sons entrar em nossos ouvidos, estaremos com atenção no assunto e na pessoa bem como circundantes. Ao mesmo tempo que estaremos observando o que sentimos no centro emocional e no centro instintivo como forma de sensação. Ao emitirmos nossas opiniões dentro do assunto, não deixaremos as manifestações emotivas evoluírem e assumirem a conversa, apenas o centro intelectual ( razão ), mesmo que ela seja contra aquilo que temos como personalidade ou opiniões que tenham, nossos eus que não são do Trabalho. Dessa forma veremos que a atenção normal está limitada externamente ou internamente por aquilo que chamamos de falsa personalidade, se esta pessoa não for do Trabalho de Gurdjieff.

Ao descer do ônibus, uma certa pessoa está fazendo exercício sentindo os pés, mãos e observa ao longe que um amigo se aproxima e vem um pensamento: “Ele vai falar sobre o jogo de ontem e eu não vou discordar dele em nenhum momento”. Ao dar um aperto de mão, notou a sua alegria ao se encontrarem e sentiu interiormente uma satisfação; quando o amigo começou a falar passou a sentir o seu próprio rosto ao entrar no assunto de futebol, se preparando para não ir contra a opinião dele. Durante o papo esquece do seu próprio rosto e passa a não senti-lo, o assunto entrou em contradição sobre o árbitro, um tenta provar para o outro que o árbitro é ladrão, trazendo vários argumentos anteriores sem nada conseguir. Percebe que o rosto começou a esquentar emotivamente mesmo relaxando o ombro e decidindo continuar se observando, a pulsação aumenta e em seguida o assunto se torna natural sem nenhum esforço de Trabalho. Imediatamente a pessoa volta a sentir o rosto e observar todos esses fatos, isto é uma constatação, ele pode ver nesse momento as pessoas que passam ao redor, crianças brincando, pássaros cantando e etc, voltando a estar presente e assim fica na condição de ESPREITADOR, seu destino volta, pelo seu próprio esforço, a ter uma direção dentro da imortalidade.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Os Cosmos

Para entendermos em qual local estamos e qual a nossa situação no Trabalho, devemos ter a idéia dos Cosmos. É muita pretensão das pessoas acharem que por um simples telescópio ou microscópio podem entender a formação daquilo que conhecem a respeito do Universo. Neste conjunto de tudo o que existe como conhecimento do homem comum, desde a sua “consciência” até a vida orgânica, astros, etc,. Perguntamos:  “Em que lugar se situa a Terra?”; “Tudo existe pelo simples motivo ocasional da compreensão científica?”; “Será que a percepção da existência da vida é unicamente humana?”; “E as perfeições da natureza orgânica, como explicar?”.
Para se ter uma ligeira idéia de como é o Universo temos que  ver e entender duas situações distintas: a) o homem como matéria perceptível cientificamente ; b) o outro como um ser psicológico que também é uma materialidade, desde a pedra  ao pensamento e sentimento. Neste ponto podemos tomar o homem como a semelhança de Deus, mas deve ser um homem completo com todos seus corpos.
Neste contexto geral não podemos dizer que exista apenas 1 Cosmo, mas sim 7 Cosmos como um todo.

     Protocosmo – Absoluto, mundo de 1 lei.
     Ayocosmo – Todos os mundos, mundo de 3 leis
MI      Macrocosmo – Todas as galáxias incluindo  a Via – Láctea, mundo de 6 leis
             Intervalo de semitom, necessidade de um choque.
    4º Deuterocosmo – Todos os sóis incluindo o Sol, mundo de 12 leis.
SOL    Mesocosmo – Todos os planetas incluindo o Planeta Terra, mundo de 24 leis.
    6º Tritocosmo – A vida orgânica na terra incluindo o homem , mundo de 48 leis.
SI        Microcosmo – Todos os átomos, mundo de 3 leis.
            Intervalo de semitom, necessidade de um choque.
   8º Protocosmos – Absoluto, mundo de 1 lei, volta ao início.

A idéia de Cosmos é ligada ao Raio de Criação e se tentarmos entender as limitações de nossa compreensão, temos que minimizar tudo ao nosso nível de consciência e não esquecer duas coisas: a materialidade e a vibração. Quanto mais baixo o nível de materialidade mais vibração, quanto mais alta a materialidade mais baixa a vibração.
Um Cosmo se manifesta em outro superior ao seu próprio e também noutro inferior para se completar e dar continuidade e equilíbrio geral no Universo.
O homem vive no Tritocosmo e é limitado na sua vida comum do corpo denso, dentro de 48 leis. Vamos dizer que ao olharmos numa noite as estrelas, planetas, Lua no céu e sentindo a brisa noturna, estamos no Tritocosmo. Não temos idéia do Microcosmo (inferior a nossa situação) e do Mesocosmo (superior a nossa situação), mas no momento de percepção (miração) e visão espiritual passamos a ver em parte outra realidade, outro Cosmo, superior ou inferior (Microcosmo). Somente passaremos a atuar neles se tivermos veículo para se manifestar nesse Cosmo (2º Corpo - Astral).
O Protocosmo, ou 1º Cosmo: é o Absoluto. É a matéria de mais alta vibração existente. É a mais fina e sutil. Se nosso mais alto sentimento e pensamento dos centros superiores são H6, este, está três escalas abaixo (tríade) do 1º Cosmo, sendo acessível apenas ao homem número 7.
O Ayocosmo, ou  2º Cosmo é onde se manifesta a vontade e imaginação criadora do Absoluto. Está sob 3 leis. Se falarmos de materialidade, é a união do 2º mais alto nível de vibração com o mais baixo existente nos Cosmos. Seria tudo o que existe dentro de nossa compreensão e além dela. Não que tenha a matéria mais grosseira do universo, mas sim que está dentro, formando toda a matéria existente, sem contudo ser ela. Se quisermos analisar dentro da nossa compreensão, a sua parte negativa seria o Vácuo, a parte positiva o Átomo ou o movimento,e a neutralizante a percepção da matéria manifestada como cor e sons (concreto e abstrato).
O Macrocosmo, ou 3º Cosmo.: podemos dizer que é a Via-Láctea e nosso representante, o Sol, dentro dela junto com as outras estrelas que estão sob 6 Leis juntas.
O Deuterocosmo, ou 4º Cosmo: seria o nosso Sol ( Deus ), que nós olhando aqui da Terra não, percebemos o seu tamanho, apenas a sua manifestação mais grosseira como: forma, calor, irradiação, etc. O seu corpo que se manifesta dentro das 12 Leis, tem um tamanho incomensurável para nossa compreensão e podemos dizer que estamos dentro do seu corpo, que passa por nós “Planetas” e vai se intercalar nas próximas estrelas que nos rodeiam, para formar um outro ser.
O Mesocosmo, ou 5º Cosmo: é a matéria refinada que forma os planetas (Marte, Vênus, Terra, etc...). Não podemos confundir com a sua forma física visível astronomicamente (telescópio), pois os planetas são seres em evolução e eles juntos formam um outro ser dentro do Sol, com uma matéria que está sob 24 Leis.
O Tritocosmo, ou 6º Cosmo: é a vida orgânica sob a Terra e o homem como seu representante. Estamos sob 48 Leis ou forças e a Lua com 96 Leis, agregada a Terra.
O Microcosmo, ou 7o Cosmo.: é o mundo atômico que está sob 3 Leis. Depois dele vem novamente o Absoluto, formando então uma Oitava completa no Raio de Criação.
OBS: A teoria atômica atualmente está apenas iniciando, pois ainda desconhece a eletricidade, gravidade e luz.
Se compararmos um homem na cosmologia, podemos dizer que o átomo do seu corpo está sob 3 Leis, seu corpo físico sob 48 Leis e as moléculas ( ferro, cálcio, etc  ) conhecidas pela ciência comum estão sob 96 Leis, assim como a Lua.
O 2º Corpo, o Astral, tem sua materialidade igual a dos planetas, está sob 24 Leis e o corpo denso, 48 Leis.
O 3º Corpo, o Mental, está com uma matéria bem mais refinada sob 12 Leis.
O 4º Corpo, o Divino, está sob 6 Leis, igual ao das estrelas.
Se olharmos o Sol daqui da Terra, ele tem o mesmo tamanho da Lua, visualmente falando, e sua influência orgânica aqui na Terra é equiparada com a Lua, mas sabemos que ele é mais de 1.300.000 vezes maior que a Terra, e a Lua é menor que a Terra. Somente pela distância é que se equiparam os 3 astros: Sol, Terra e Lua; e este fator os planetas se equiparam às estrelas, como da mesma forma influenciam a vida humana na Terra. Podemos dizer que para influenciar sem desequilibrar, teriam que ter essa distância. Se o Sol ficasse mais perto, o veríamos maior e a vida orgânica seria impossível na Terra e se a Lua estivesse na distância do sol, nós nem a veríamos, a sua existência seria nula.
Não podemos esquecer de que o fator distância e sua influência sobre nós atuam em todos os sentidos, tanto entre os astros como entre as pessoas.
O nosso corpo físico (48 Leis) está junto com nossos pensamentos e sentimentos comuns (24 Leis), o mesmo do corpo Astral; enquanto o Intelectual Superior e o Emocional Superior estão sob 12 Leis (a mesma do Sol), que é a mesma matéria o 3º Corpo (Mental). O 4º Corpo (Divino) está sob 6 Leis, as mesmas Leis das estrelas.

1º Corpo, Denso – 48 Leis ( Vida orgânica )
2º Corpo, Astral – 24 Leis ( Planeta Terra )
3º Corpo, Mental – 12 Leis ( Sol )
4º Corpo, Divino – 6 Leis ( Via Láctea )
OBS: Não podemos esquecer que  a materialidade conhecida por nós está na terceira tríade da escala dos Hidrogênios.
Todos os Cosmos são materiais ( do mais refinado ao mais grosseiro ), apenas as suas manifestações sob a forma de Hidrogênio é que limitam o número de Leis que o compõem. (06/12/2000)


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Aforismos de Gurdjieff - inscritos no Study House, Priueré- França.


    • (Ame o que você "não ama".)
    • Para o homem a mais alta realização é ser capaz de fazer.
    • Quanto piores as condições de vida, melhores serão os resultados do trabalho - contanto que nos lembremos continuamente do trabalho.
    • Lembre-se de você mesmo, sempre e em toda parte.
    • Lembre-se de que você veio aqui, porque compreendeu a necessidade de lutar contra si mesmo. Agradeça, portanto, a quem lhe proporcione a ocasião para isso.
    • Aqui podemos dar uma direção e criar condições - mas não ajudar.
    • Saiba que esta casa só pode ser útil aos que reconheceram sua nulidade e crêem na possibilidade de mudar.
    • Se você sabe que isto é mal e, apesar de tudo, o faz, comete um pecado difícil de redimir.
    • O melhor meio de ser feliz nessa vida é poder considerar sempre exteriormente - nunca interiormente.
    • Não ame a arte com seus sentimentos.
    • O verdadeiro sinal de que um homem é bom, é ele amar seu pai e sua mãe.
    • Julgue os outros conforme o que você é e raramente se enganará.
    • Só ajude aquele que não é um ocioso.
    • Respeite todas as religiões.
    • Amo aquele que ama o trabalho.
    • Podemos somente nos esforçar para nos tornarmos capazes de ser Cristãos.
    • Não julgue um homem pelo que contam dele.
    • Leve em conta o que as pessoas pensam de você - e não o que dizem.
    • Junte a compreensão do Oriente e o saber do ocidente - e, em seguida, busque.
    • Só aquele que puder zelar pelo bem dos outros merecerá seu próprio bem.
    • Só o sofrimento consciente tem sentido.
    • Vale mais ser temporariamente um egoísta do que nunca ser justo.
    • Se quiser aprender a amar, comece pelos animais; eles são mais sensíveis.
    • Ensinando aos outros, você mesmo aprenderá.
    • Lembre-se de que aqui o trabalho não é um fim em si mesmo. É apenas um meio.
    • Só pode ser justo quem sabe se pôr no lugar dos outros.
    • Se você não for dotado de espírito crítico, sua presença aqui é inútil.
    • Aquele que tiver se libertado da "doença do amanhã" terá uma chance de obter o que veio procurar aqui.
    • Feliz aquele que tem uma alma. Feliz aquele que não a tem. Infelicidade e sofrimento para aquele que só tem a semente dela.
    • O repouso não depende da quantidade, mas da qualidade do sono.
    • Durma pouco, sem se queixar.
    • A energia gasta para um trabalho interior ativo se transforma imediatamente em nova reserva. A que é gasta para um trabalho passivo se perde para sempre.
    • Um dos melhores meios de despertar o desejo de trabalhar sobre si mesmo é tomar consciência de que a gente pode morrer de uma hora para outra. E isso, é preciso aprender a não esquecê-lo.
    • O amor consciente desperta o mesmo em resposta.
      O amor emocional provoca o contrário.
      O amor físico depende do tipo e da polaridade.
    • fé consciente é liberdade
      A fé emocional é escravidão.
      A fé mecânica é estupidez.
    • A esperança inquebrantável é força.
      A esperança mesclada de dúvida é covardia.
      A esperança mesclada de temor é fraqueza.
    • Ao homem é dado um número limitado de experiências
      - se ele não as desperdiçar, prolongará sua vida.
    • Aqui não há russos, nem ingleses; nem judeus, nem cristãos.
      Há somente homens que perseguem a mesma meta:
      se tornarem capazes de ser.

    Saber e Ser



    O SABER E O SER
    O conhecimento é algo que cai no Centro Intelectual e cria a ilusão que o homem tem o saber. De uma maneira comum uma pessoa adquire um conhecimento através de livros, cursos e observação exterior de acontecimentos. Tudo isso alimentará a Personalidade que necessitamos para ter uma vida normal com a sociedade. Vamos dizer que uma pessoa adquire  um saber de marcenaria ou de pintura a óleo. Ele compra livros e começa a treinar, logo vai verificar que apesar de ter lido, visto e observado, não vai conseguir executar quase nada, vai serrar torto, pintar lambuzando toda a tela e pode até perceber que não consegue nem pregar um prego. Apesar de ter lido vários livros e perguntado para várias pessoas como fazer. Se ele insistir e continuar apesar de errar, com o tempo os erros vão diminuindo, significando que seu conhecimento que era teórico, está passando a ser prático, em outras palavras de simples conhecimento está passando a ser saber. O homem é o que sabe, não o que conhece. Uma outra forma é a seguinte: Apresento um amigo a várias pessoas numa festa  e depois de um tempo todos passam  a conhecer o Toninho. Mas eles não sabem quem é o Toninho, apenas o conhecem. Eu sei que ele é pintor, poeta, não é ladrão e gosta de doces e chá.
    O saber é um nível acima do conhecimento e também o próprio saber tem níveis diferentes que podem mudar o ser das pessoas.
    Uma pessoa pode ter um saber igual à outra e seu nível de ser pode ser muito acima. Dois carpinteiros podem ter o mesmo saber sobre a sua profissão. Um deles, o A possui um equilíbrio interior, não se exalta, é paciente e o dinheiro que ganha o gasta moderadamente para não lhe fazer falta. O outro, B, é um exaltado, impaciente, e sempre se mete em dificuldade financeira e etc. O A tem amizade com seus vizinhos  e o B, nenhum de seus vizinhos gostam dele, é um sujeito mal visto.
    Aqui no trabalho de Gurdjieff o mesmo acontece. Duas pessoas recebem o mesmo exercício de psicologia para se fazer uma observação de si. Um deles quando está perto de outros amigos, por algum motivo se exalta e quer brigar, esquecendo os exercícios de auto-observação naquele momento e coloca seu conhecimento limitado, cheio de rancores, orgulho, vaidade, ciúme acima daquilo  que se propõe para elevar seu nível  de ser que é uma observação imparcial de si mesmo. Um outro, quando as coisas não acontecem como ele quer, se observa, fica calmo e colhe na prática uma observação de si que pelo menos naquele momento o coloca acima de seu próprio limite.
    Em dado momento nos vem uma influência de alguém, imediatamente as vozes interiores baseadas em nossos conceitos mecânicos, nos domina passamos a responder ou não aquilo  que nos foi dito ou o que vemos. Neste momento podemos escolher ou sermos o que sempre fomos, desta maneira nada mudará, nem nossas idéias, sentimentos e acima de tudo nossa compreensão se estiver em zero, neste número continuará, mas caso contrário, se decidirmos não reagir mecanicamente, relaxamos nosso corpo, observamos nossos sentimentos e até nosso conceitos e pré-conceitos  e não reagimos, apenas observamos, nada mais ao dar respostas a uma conversa procuramos o Centro Intelectual e a razão baseada na observação do fato e não nos conceitos que sempre tivemos, como ponto de vista, penso assim, sou assim, gosto disso, não daquilo e etc.
    Toda a pessoa que decide mudar, tem que sacrificar suas fraquezas, aquilo que o faz dormir, ser o mesmo que sempre foi. Agora se a pessoa entra nos Trabalhos de Gurdjieff e se considera perfeito, correto e satisfeito com o que é, deve parar de se enganar que quer mudar seu próprio nível. Aqui em nosso trabalho, queremos ser outra pessoa, não estamos satisfeitos com o que somos, nem com a vida que levamos. Queremos outra forma de encarar a vida, outra consciência, por isso tudo o que achamos correto ou errado devemos observar imparcialmente. Apenas observar, não julgar. Nem o que somos e nem o que nossos companheiros dessa jornada são.
    Num grupo, uns gostam de cigarro, outros de bebidas alcoólicas e um terceiro de falar muito, um quarto de ficar calado, etc... Todos devem sempre lembrar  que aqui estamos para mudar nosso conceito de vida, e não como um clube social onde devemos seguir regras de comportamento, etiqueta e moralidade. Aqui no nosso grupo não nos importamos com o que as pessoas pensam ou agem em sua vida. Para nós o que importa é o objetivo de acordar, ver, sentir, perceber, estar presente nas atividades e exercícios nada mais. A meta a ser alcançada pode até estar longe, mas o caminho a seguir sabemos qual é.  E a nossa conduta externa pouco importa, pois o nosso interior deve sempre estar atento. A mudança do ser não se baseia no comportamento das outras pessoas, muito menos do que elas fazem ou pensam. O importante é estarmos sempre presente sacrificando nossas fraquezas que acumulamos durante nossas vidas. Todos aqueles que estiverem no grupo de Gurdjieff é um companheiro de Trabalho e deve ser respeitado em suas fraquezas pois se fossem fortes não precisaríamos de grupo nem de consciência. A luta é interior e ininterrupta, sem trégua, caso contrário nada alcançamos.
    (11/09/2000)