sexta-feira, 27 de setembro de 2013

AMORTECEDORES



 
No trem, os amortecedores existem para que não haja choque grande entre os vagões, principalmente quando freiam.
Nós temos vários EUS: uns bonzinhos, apressados, raivosos, etc. Para cada situação aparece um tipo com todos os seus defeitos. Eles somente existem porque não está sendo feita uma observação imparcial e objetiva sobre si mesmo. Como esquecemos dos momentos e acontecimentos, nos enganamos achando que somos sempre os mesmos. Então, aquilo que chamo de razão, prevalece no estado de vigília e a pessoa julga ser uma só. Quando fala, diz: Eu quero assim, penso assim, sou assim. O nível de compreensão é diretamente ligado à consciência limitada de quem está nessa situação. A pessoa sempre se considera certa e faz somente o que ela pensa ser o correto.
Quando uma pessoa boazinha se torna nervosa, ao descontrolar-se, acha que é a mesma, pois existem os amortecedores que ela não percebe. Mudando de um Eu para outro sem conseguir diferenciá-los. Ao se lembrar do acontecimento, diz que estava descontrolada, sem saber que no momento em que está controlada não é a mesma pessoa, é outra completamente diferente, tanto na forma de pensar como de sentir. O tempo vai passando e a pessoa acredita ser somente uma.
Vamos dizer que uma pessoa está atenta, sentindo o corpo e observando os sentimentos e pensamentos que possui. Quando um processo de acontecimentos se inicia a pessoa pode estar atenta e com isto ela não é nem boazinha e nem apressada ou nervosa. Ela pode ser qualquer uma delas no momento em que quiser por lhe ser útil, além de não deixar aumentar a raiva do outro que lhe ouve. Se isto acontecer (provocar raiva no outro), pode ter certeza que o observador também está no mesmo nível de compreensão.
O EU observador, tendo continuidade, elimina os outros EUS, não os deixando se manifestarem mesmo no estado de vigília. Com o passar do tempo, todos os eus se tornarão apenas um EU. É exatamente como o gráfico de uma batida cardíaca, uma hora está em cima, outra embaixo não ficando numa reta, pois isto significa a morte dos outros EUS. Ao se passar de um EU para o outro, aparecem os amortecedores que se manifestam como uma desculpa ou outra explicação para continuar fazendo o que sempre fez, pensou ou sentiu.
17/03/2009

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

SACRIFÍCIO

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"...É necessário o sacrifício  - disse Gurdjieff. - Se nada é sacrificado, nada pode ser obtido. E é indispensável sacrificar o que lhe é precioso no próprio momento; sacrificar muito e sacrificar durante longo tempo. Não para sempre entretanto ..." (Em Busca do Milagroso – pág.  49. P. O.)
Em nosso caso devemos fazer pequenos sacrifícios, os mais simples possíveis. Por exemplo: num determinado momento percebo uma emoção negativa. Já sei que ela não trará nada de bom para mim, nem no momento, nem depois. Chegou a hora do sacrifício. Devemos dar um passo atrás de nossas emoções, relaxar o corpo e não deixá-la em hipótese alguma se manifestar. Sacrificamos até a própria "razão". Por mais certos que possamos estar naquele momento, somente teremos razão se formos donos de nossas atitudes. Nesse sacrifício, eliminamos a vaidade e o orgulho, sem nos importarmos com o resultado de nossa "covardia", pois a maioria das pessoas acha que coragem é perder o controle sobre si mesmo.
Uma outra força que nos rouba energia são as fantasias interiores. Devemos sacrificá-las também. Aquilo que julgamos serem nossos pensamentos e decisões não são mais do que acontecimentos aleatórios, completamente fora de nosso controle. Se num momento acho que devo falar alguma "verdade" para uma pessoa ou simplesmente tomar alguma atitude, devemos sacrificar essas manifestações e apenas observá-las, nada mais. Tudo vai passar; gritemos ou ficando quietos. Tudo passa, então devemos aceitar esse fato e dentro de nós mesmos humildemente nos calarmos e procurar, através da observação de si, entender o que está acontecendo. Estamos sacrificando nossas próprias fraquezas.
Até agora só abordamos sacrifícios interiores, mas também existem os exteriores. Vamos dizer que determinada pessoa diz que faz qualquer coisa para acordar e quer ser um dia um guerreiro ou uma bruxa."- Fale mestre! Que eu te sigo e faço qualquer coisa!". Nada é mais falso, pois aqueles "Eus" que decidiram, daqui a uns instantes já não estarão presentes e os "Eus" do choppinho, Kaya (maconha), festas e outras coisas se apresentam e dominam a situação. A pessoa que não tinha dinheiro nem para pegar um ônibus, bebe várias cervejas, fuma Kaya, vai a festas e tudo consegue para satisfazer suas fraquezas. Nem o sono a pessoa deseja sacrificar. Olha para o relógio e pensa: "Vou dormir mais um pouco. Hoje estou cansado e muito mal." E lá se vai o dia com a pessoa se espreguiçando na cama. Esperando o tempo passar e a morte chegar nos braços de Morfeu. Não quis sacrificar a preguiça, pois a trata com carinho e zelo.
Também pode nos acontecer de termos que tomar uma decisão onde teremos que sacrificar um serviço, ou uma profissão. Onde teremos que escolher continuar no Trabalho de Gurdjieff ou seguir a vida. No nosso interior já sabemos o que queremos, mas como gostamos de nos enganar, o que falamos não é a verdade. Quando aparece uma oportunidade, por exemplo, um emprego, marido, viagem, passeios, aniversários, enterros... qualquer coisa "boa", já é o suficiente para a pessoa faltar às reuniões, domingueiras...
No nosso caminho encontramos vários obstáculos e para sermos dignos de pertencer a uma Escola, devemos saber o que queremos. Caso contrário, somos exatamente iguais a qualquer pessoa, estamos apenas à espera de alguma oportunidade para sermos levados pelo rio da vida, pela correnteza das atrações do mundo em que vivemos. Nas outras Escolas (Monge, Faquir e Yogue) exige-se também sacrifícios. Ou você vive no mundo comum ou escolhe o Caminho da Evolução e da imortalidade. Tanto num como no outro exige-se um sacrifício. Nós estamos a todo momento nos sacrificando.
Digamos que uma pessoa que esteja no Trabalho de Gurdjieff tenha a oportunidade de alcançar algo que sempre quis na realidade. Desde um casamento feliz, filho, projeção em algum tipo de serviço com dinheiro e fama. Essa pessoa tem que sacrificar sua imortalidade na Terra e o seu domínio sobre si mesmo. A pessoa está sacrificando a sua consciência e a visão de outras realidades, que lhe trarão um poder permanente. As duas decisões são incertas. Se escolhermos a vida mundana, podemos pegar uma doença, ser atropelados, ou não dar certo o que achamos ser certo. O tempo passou, nada fizemos para nós mesmos e vamos tentar novamente, sempre na fantasia de que depois voltaremos para o Trabalho de Gurdjieff. Isto é uma falsidade, é uma mentira que alimentamos para nos enganarmos, pois nós somos o que fazemos e não o que pensamos em fazer um dia.
No caso de uma pessoa permanecer nos Trabalhos de Gurdjieff, também pode estar se enganando. Ela pode estar vindo para as reuniões, movimentos, etc. e não estar fazendo exercício algum. O tempo vai passar e a pessoa não vai conseguir quase nada de estável e duradouro; a única coisa que a coloca um pouco melhor do que as outras pessoas comuns são os movimentos e MOKUSO.
Os sacrifícios em geral dão um resultado e trazem algo palpável e melhor do que aquilo que a pessoa pode ter perdido. O Trabalho de Gurdjieff dá em troca de qualquer sacrifício sincero um poder interior que faz a pessoa atrair outras oportunidades de maior vulto e aí a pessoa pode escolher, com domínio da situação e ser dono de seu próprio destino. Neste ponto, quando isso chega, alguma coisa também aparece, que é a consciência e a compreensão trazendo junto com elas, a indiferença por aquilo que não seja o Trabalho. A pessoa passa a escolher o que quer e não esperar oportunidades.
Nós do 4º Caminho estamos na vida mundana sem, contudo, sermos levados por ela. Participamos de tudo o que for possível e lutamos para melhorar nossa situação de profissão e estabilidade social, mas no momento que tivermos que escolher entre um e outro, sabemos o que mais tem valor em nossa caminhada. Se é a vida ou a evolução de nosso ser como um todo.
Há realmente dois rios. Um nos leva aos prazeres de festas, comilanças, risos, viagens, família e uma velhice, esquecido num canto como um entulho da sociedade, preocupado com os netos, ou em qual asilo ficaremos com nossa carcaça velha e cheia de doenças e fraquezas. O outro rio é o do sacrifício e Trabalho durante anos a fio, que nos trazem o equilíbrio e o início de uma caminhada após o abandono dessa carcaça, que nos ajudou a chegar e transpor limites acima de nossa atual compreensão, em mundos onde nossas limitações esbarram no incompreensível e ficamos extasiados em apenas observar o que existe e está à nossa disposição.
Temos a compreensão de que o homem não veio para servir as suas próprias fraquezas, mas para uma existência onde os limites não sabemos onde ficam. Contudo, não termos que sacrificar nada do que seja bom da vida comum, apenas nossas fraquezas e nossos sonhos para sermos homens de verdade, e seguirmos nosso real destino em busca do incomensurável, da imortalidade,  na direção daquele que nos criou.
(22/11/00)



sábado, 14 de setembro de 2013

LEI DO TRÊS E OUTRAS

 


Nós estamos sob leis e podemos diminuí-las ou aumentá-las, dependendo do nosso nível de consciência. Se partimos do Ser Supremo, que é a manifestação Divina, com sua vontade e imaginação, são as primeiras 3 leis que se manifestam a todo momento em nossa vida e a conhecemos como ação, reação e neutralização. É o equilíbrio para tudo o que existe, também conhecida como força ativa, passiva e neutra.
A manifestação seguinte são essas 3 forças (som) mais uma que passará a lei seguinte, então será 6 + 1 que é 7 ou lei do 7 que também se manifesta em todas as situações de evolução e involução e que num grau normal para o homem podemos conhecê-las pelos sons (Dó, Ré, Mi...), cores (verde, vermelho; as cores primárias e as outras).
O homem, para ter uma vida normal, isto é, viver na matéria, necessita de 48 leis. Digamos que o Absoluto tem dentro de si todos os mundos, e para existirem todas as galáxias e/ou todos os mundos estão sob 3 leis. O mundo seguinte, a nossa galáxia, terá 6 leis. Nosso sol, 12 leis (3 do absoluto, mas 3 de todas as galáxias, que serão 6 leis) e mais 6 de sua própria existência, somando 12 leis. O próximo serão todos os planetas, que formarão um ser em torno do Sol com 24 leis, nossa terra fazendo parte dos planetas, 48 leis e a lua 96 leis. Depois disso o Absoluto novamente, sem nenhuma lei, somente sua vontade.
À medida que se distanciam do Absoluto, as leis se tornam mais mecânicas, mais difíceis de se viver sob sua atuação. O homem tem em si as manifestações desde a lei do 3 até as 48 leis e assim, um homem comum está sob essas leis. Uma outra pessoa decide se lembrar de si, isto é, não ficar distraído pela vida. Resolveu ter uma meta definida dentro de si: Ao andar na rua, trabalho, escola ou outro, começa a observar-se. No momento do relaxamento do corpo, ele está sob 24 leis. Por uns instantes ele é sensação e percepção. Seu alimento são as impressões que recebe do local através do seu corpo. E assim ele pode sair dali com a sensação bem definida de sua existência, em sua cabeça pergunta sobre seu proceder; e assim ele vai andando dentro de um ônibus, atento, sentindo sua presença... 
De repente olhando através da janela, vê um amigo(a) e recebe uma influência, de tudo o que ele representa para si, como dança, alegria, serviço, passeio, sexo... No mesmo momento se esquece de tudo o que se propõe e já está novamente um homem comum, totalmente a mercê da lei que a outra está. Esta pessoa como indivíduo já não existe, aquela que se propôs a um instante para o trabalho de Gurdjieff sumiu, desapareceu... aqueles eus mecânicos é que tomam conta naquele momento de sua vida. A pessoa mais importante naquele momento para esta pessoa é Paulo, Mário, etc... Gurdjieff já não existe, nem o Trabalho tem mais importância, tudo volta como sempre foi.  Se a pessoa se sente inferior naquele momento, ela é inferior a outra, se se sente superior, também sentirá isso e assim se formará um círculo vicioso de mecanicidade sob as 48 leis que é a do sono comum.
O que fazer para não cair nisso durante nossa vida? Primeiro se determinar a enfrentar esse desafio da vida, não fugindo ou se escondendo. Nos trabalhos de Gurdjieff não fugimos de nada pois a maioria dos homens estão dormindo, são pessoas que caminham para o sono, nada mais. Então não há motivo de se preocupar. É necessário estar somente atento aos exercícios que temos, nada mais. Dentro de um grupo são poucas as pessoas que lembram de si perto dos amigos e daquilo que gostam em sua vida. Os poucos que conseguem se lembrar de si e fazer os exercícios, estão se preparando para viver sob 24 leis, que é fora da vida comum. 
Quando estamos juntos as coisas do Trabalho se tornam mais fáceis e não ficamos tão distraídos como normalmente somos. Estes momentos de encontros são para recarregar as baterias que usamos na vida lá fora. As possibilidades de um trabalho real de Gurdjieff está em se determinar a não esquecer de si mesmo como primeiro passo para a imortalidade, em qualquer lugar e situação, por mais boa ou ruim que seja. Mas as mais difíceis são as boas, que nada mais são do que a morte interior da evolução do homem. Não há necessidade alguma de abolir o que temos na vida, somente não se distrair consigo mesmo. Estar em constante alerta para aquilo que se determinou na vida, que é acordar para poder andar.
(12/09/2000)

 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

AS INFLUÊNCIAS



                              

Em todos os momentos da vida recebemos influências. Em qualquer lugar ou situação, o homem vive de influência. Ele as recebe como também transmite constantemente. Quer esteja sozinho ou no meio da multidão, na floresta ou na cidade,  recebermos no mínimo 3 tipos de influência, sempre.
A primeira influência é Influência A: são aquelas que nos tornam mecânicos e distraídos, mas que também nos proporciona meios de sobreviver em grupo ou sozinho. A TV, rádio, revistas, livros, festas... todas essas influências que conhecemos. Gostamos de algumas, de outras não, mas todas elas não levam o homem a evoluir conscientemente, não influenciam o homem a acordar. Ele está dormindo e assim continuará até a hora de cessar tudo em sua vida.
A segundo influência é a B: são as religiões, os rituais, livros e revistas que atraem o homem a pensar um pouco além de seu cotidiano. Podem até criar um desejo de conhecer e saber um pouco mais sobre si mesmo e procurar algo que o atraia a receber o terceiro tipo de Influência, que chamamos de C.
Influência C: esse tipo já é bem diferente. Sempre é um trabalho sobre si mesmo e requer um esforço contínuo da pessoa para mudar o seu interior. Sempre é um tipo de ensinamento direto, aluno professor, nunca à distância, no caso comum dos homens. Como a nossa vida nos obriga a lutar para ter um equilíbrio social, descartamos os 3 caminhos (yogue, faquir e monge). Só nos interessa o 4° Caminho, que nos dá uma possibilidade de mudança dentro da vida, sem aparentemente nada fora dela, e que não atrapalhe o nosso caminho social.
O homem que está se esforçando para adquirir algo permanente dentro de si deve estar sempre alerta para esses tipos de Influência que recebe diariamente e no momento em que decidir despertar, durante seu dia a dia, deve se separar interiormente de todos os tipos de Influência A e B.
Como deve ser feito? Primeiro se auto observar através de um ato, fora da mecanicidade e sempre procurar estar com o corpo relaxado, em qualquer circunstância normal. Estar dentro e fora de si, com sua atenção sempre a alerta procurando ter um apoio intencional. As influências A são tão abrangentes que por mais bonitas e corretas que sejam as ações, o  que fazemos com essa influência não nos acordará.  
Nesse nosso caminho a intenção e objetivo é despertar-se e para isso temos que nos conhecer. Os movimentos filantrópicos e religiosos não nos interessa em absoluto. Não significa com isto que não podemos pertencer a um ou outro movimento. Mas quer estejamos ou não em atividade, a nossa meta é estar presente e armazenar energia que não depende de outras pessoas para o nosso lugar ao sol.
Aqui o nosso esforço não é para imitar ninguém, nem buscar a paz, é conhecer a si mesmo. E como sozinho é impossível, trabalhamos juntos nesse objetivo. Aqui não temos mestres ou discípulos, temos pessoas com desejo de acordar, pessoas que não estão satisfeitas, nem com o que veem nem com o que são. Querem ser melhores do que são hoje, na consciência e no equilíbrio. Se uma pessoa realmente quer algo permanente na vida tem que se submeter a sua própria vontade, se assim podemos dizer. Não deixar ser levado pela Influência que nos arrasta para a morte de nosso corpo e de nossa consciência. Por mais belas palavras que ouçamos, decoramos... Nada disso é um esforço para acordar. E aquele que se julga sabedor ou pensa que está desperto, perde seu tempo em enganar a si próprio, fantasiando sua vida achando que basta estar correto que vai alcançar algo.
O nosso caminho é o caminho do guerreiro porque lutamos ardentemente com todos os nossos meios para despertar, conhecer e viver outra realidade que se apresenta aos homens. Mas não esperamos que ninguém nos leve. Nós vamos com nosso próprio esforço pessoal, em direção ao que conhecemos como luz (consciência ) e paz ( equilíbrio ) , que estão dentro de nós e não fora, pois se preciso for estamos prontos pra lutar tanto fora como dentro de nós e com isto alcançar o AMOR, que é um sentimento desconhecido do homem comum.