sexta-feira, 12 de julho de 2013

O TRABALHO SOBRE SI

                                        
Acreditar que aquilo que somos é a única coisa que existe em nós é um "sonho" ; é não aceitar a realidade. O que somos como ser é muito mais do que somos como gente. Quero dizer que o homem mecânico, trabalhador , com gostos e desgostos, é uma infinita parte do que ele pode vir a ser um dia: uma pessoa equilibrada consciente. Digamos que estamos conversando com alguém, ou com algumas pessoas, rindo, brincando, ou discutindo sobre futebol, política ou outra coisa qualquer e de repente lembramos de nós mesmos. Imediatamente relaxamos a parte do nosso corpo que está tensa, continuamos a conversar, e nesse momento passamos a observar as pessoas, o assunto, tudo o que está fora e dentro de nós, olhamos nossos "pensamentos" e observamos o que aquilo nos faz sentir, quais as reações que temos, qual assunto nos atinge, com o que somos identificados, qual a parte do nosso corpo que teima em se contrair, qual o timbre de nossa voz, qual a parte de nós que se interessa pelo assunto, qual a posição que nosso corpo quer tomar, se falamos levados por interesse ou não, quem dentro de nós quer falar sobre aquele assunto. Neste ponto se mantivermos esta atenção tudo dentro de nós muda, e também fora de nós. E aquele que está observando está guardando energia que se transformará em consciência.
Acumulando nossa possibilidade de compreensão sobre tudo o que está se passando a nossa volta, passamos a ser um observador acima da montanha olhando tudo em nosso redor sem se identificar, sem raiva, sem rancor, contrações musculares, etc...Toda a energia do momento está a nossa mercê e neste momento estamos sob menor lei, estamos mais perto de algo superior. Estamos fazendo o nosso verdadeiro destino, estamos dentro do corpo com suas funções ( centros ), mas não somos nem as funções nem os centros, somos o observador imparcial sem lado, sem defender nada daquilo que temos dentro de nós. Os EUS que estão atuando estão sendo observados então vão se enfraquecendo e nós nos fortalecendo a cada instante. Passamos a ter a chance de nos tornarmos homens equilibrados pois na observação somos o fiel da balança. Estaremos no centro do palco da vida, e seremos também uma pessoa que atua e ao mesmo tempo assiste os acontecimentos tanto das pessoas como aquilo que acontece dentro e fora de nós. Nesta situação de observação eliminamos a metade das leis que vivemos no mundo normal ( físico ) e passamos a ficar debaixo de outras leis. Não devemos nos esquecer que no exato momento de não observação ( distração ) voltamos a cair e ficar sobre o dobro de leis como todas as pessoas, a lei do acidente, tudo nos acontece, inclusive nossos sentimentos, ações, etc... Nós temos três casos distintos de atitude de observação que podemos chamar de 1º, 2º  e 3º grau.
Na Observação de Si de 1º grau é quando estivermos sozinhos  tanto perto de pessoas como sem ninguém ao nosso lado, pois as duas situações podemos classificá-las como sozinhas (no momento que estivermos perto de pessoas  que não trabalham sobre si é como se estivermos perto de ninguém). Se estivermos em Observação de Si  nesta situação fazemos o exercício do dia e outros. Em cada situação ou posição exercitamos o mais conveniente além do obrigatório.
Na Observação de Si de 2º grau é quando estamos com um ou mais companheiros de trabalho e uma ou mais pessoas que vivem sem esforço interior nenhum de auto-observação. Nesta situação devemos sempre praticar a consideração externa e não procurar com atitudes ou gestos tentar acordá-la e nem fazê-la dormir mais; apenas agimos normalmente, com conversas agradáveis, piadas, etc... sem perder o objetivo da atenção interior. Temos que agir o mais discreto possível, e em certas situações até ficar contraídos com o rosto propositadamente.
Na Observação de Si de 3º grau é quando não há ninguém que não esteja no trabalho , isto é , todos são do trabalho e estão com o mesmo objetivo. Podemos até chamar de campo de batalha, ou cadinho.  O objetivo deve ser comum: acordar e permanecer neste estado o maior tempo possível. Nada que faça se distrair se deve permitir entre os praticantes. E podemos estar em diversas situações que chamamos de A, B e C.
A) É quando o grupo está sem obrigação imediata de trabalho, e estamos conversando. Nesta situação devemos ter um assunto que se desenvolva naturalmente com as idéias do trabalho. Não se deve procurar se distrair. Podemos conversar sobre tudo e todas as coisas que quisermos, mas sempre com o objetivo de estarmos atentos e aumentar nossa compreensão sobre o trabalho.
B) É quando um ou mais estão fazendo um serviço comum e outro(s) não estão fazendo. Quem estiver fazendo deve procurar fazer o mais perfeito possível e quem não estiver participando deve observar ao máximo o companheiro e mostrar possíveis falhas em sua obrigação, de maneira atenta e objetiva, nunca somente de opinião pessoal. Sempre dentro de uma lógica e razão, ajudando em algo e não atrasando ou atrapalhando.
C) É quando  todos estiverem trabalhando ( domingueira, sabadeira, mutirão, etc... ) Deixar de lado todas as fraquezas e preguiças de amizades mecânicas, distrações , brincadeiras, etc. Nada deve ser feito sem o objetivo de acordar o companheiro e manter a atenção sobre si.
Ao partir para uma reunião de grupo objetivar que a reunião se inicia no momento da decisão que se toma de participar dela. Qualquer coisa que atrapalhe cumprir o horário deve ser observado porque acontece e perguntar a si mesmo: Porquê Comigo? No que falhei? Porquê o destino fez isso comigo? etc... E em cima disso se preparar para ter a liberdade de poder fazer o que quer com o seu próprio destino pois a maioria das coisas que nos acontecem, não somos nós que queremos.
A pessoa que está no Trabalho tem que procurar uma condição de poder fazer algo para si mesmo e avaliar a importância deste ato. Nada é acidental em nossa vida, tudo tem um motivo mecânico e automático para nos levar a dormir. Somente os nossos atos objetivos e programados do Trabalho nos dão a possibilidade de acordar e ter um destino verdadeiro que o homem merece, além daquilo que ele recebe na vida comum.
Encontramos 3 barreiras difíceis no Trabalho:
  • A primeira é encontrar alguém acordado que queira nos acordar, para isso temos que querer acordar.
  • A segunda é prosseguir quando forças externas nos tiram da meta de acordar quando estamos nessa escola com este fim. Que pode ser necessidade de dinheiro, farra, comodismo na vida...
  • A terceira é quando adquirimos um pouco de equilíbrio e vemos os outros dormindo e achamos que já temos  o suficiente para prosseguir sozinho. Este é o mais forte de todos pois tira a possibilidade da pessoa alcançar a imortalidade.

(06 de Julho de 2000) 

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