sábado, 1 de junho de 2013

As Influências A, B E C




Todos começamos algo numa direção e com um objetivo. Digamos que decidimos ir para um  grupo de estudos para adquirir mais conhecimentos sobre si mesmo e que temos que por em prática a observação de si, os exercícios, reuniões, domingueiras, movimentos, leituras, etc...  Todos que começam iniciam com um tipo de sinceridade aparente. Durante as reuniões os assuntos são do trabalho, quando terminam as reuniões já se inicia o segundo processo de influência: as pessoas começam a falar sobre outras pessoas, a brincarem e logo em seguida já estão completamente  esquecidos dos objetivos da observação de si ; começam a criticar quem está falando, a quem errou os movimentos etc; tudo começa a ser mecânico, as brincadeiras entre amigos  se tornam importantes e as tarefas da vida passam a tomar conta como sempre de nossos procedimentos. Às vezes nos lembramos dos exercícios uma ou duas vezes durante uma semana e já achamos que isto é tudo; as reuniões do grupo passam a ser algo social , encontros entre amigos que já faz uma semana que não se vêem., entre abraços e beijinhos, todos alegres e felizes tomam seus lugar es e se inicia uma reunião de “Gurdjieff”. Entre as pessoas que participam de um grupo vão se formando 3 categorias de praticantes: Os Papagaios que falam muito, perguntam tudo , querem saber além do que é dado em reuniões, mas só decoram, não praticam efetivamente quase nada. Os Corujas ficam calados como se soubessem tudo, não fazem pergunta e assim também ficam fora do local de reunião. Olham, tudo e nada fazem. Os Corvos falam, dão depoimentos e saem à procura de carniça que possuem em si e na vida. São os que estão realmente no trabalho, praticam no dia a dia e nas reuniões. São os que chegam mais alimentados com as influências do Trabalho. Claro que todos recebem influências dos 3 tipos.
  • A - da vida comum, como um chamamento para o sono e a morte da consciência.
  • B - com leituras de livros esotéricos, bíblias, etc.
  • C - diretamente de uma fonte onde se tem a possibilidade de acordar que são as influências do trabalho, no nosso caso Gurdjieff.

Não há outra maneira de se perceber qual é a nossa situação interior, se no exato momento de qualquer manifestação de mecanicidade não sacrificarmos nosso orgulho, ciúme, vaidade, raiva e imediatamente obedecermos o que nos propusemos a fazer no trabalho de conhecimento de si mesmo. Digamos que ao sermos provocados por algum fato bom para se distrair , ou mal para os sentimentos ( raiva ); devemos nos lembrar de nossos objetivos  maiores da vida e pegar aquele momento como uma luta de Titãs entre Eus da vida e Eus do Trabalho. Num dos depoimentos que achei perfeito uma pessoa me disse: Um Eu conversador inicia a conversa interior contrária aos exercícios  do Trabalho, um outro Eu observador passa a observá-lo sem interferir . Este Eu conversador observado cessa a conversa interior  e o Eu observador que observa fica satisfeito com o resultado. É  aí que inicia uma verdadeira observação pois até este Eu observador do trabalho também deve ser observado igual ao outro. Todos os nossos pensamentos, imaginações, dados da vida não nos pertence. Tem que ser observado. Tudo aquilo que defendemos ou não gostamos em nós não nos pertence, é algo que pode ser mudado. O verdadeiro caminho que seguimos é o da mudança, da troca de tudo o que somos ou que temos; nada em nós deve ser guardado, devemos esperar sem parar e lutar para que cada movimento externo e interno tenha uma direção em nossas observações do trabalho. O que achamos dos outros é errado assim como o que achamos de nós mesmos.
A única maneira de chegar a ser alguém como um Guerreiro, homem de conhecimento, buscador, etc...não reside em nós; é fruto de um esforço contínuo. Já lemos em algum lugar que o homem para renascer deve antes morrer. O que será que isto significa? O morrer é não deixar nada vivo como base de algo a ser valorizado em nós. Tudo deve ser apenas observado e este que vê dentro de nós é a semente do renascer. A mudança de uma simples pessoa que vive dormindo não se baseia em leituras, nem em reuniões mas em um trabalho solitário consigo mesmo. O ver não é apenas abrir os olhos e saber como fazê-lo, é acima de tudo aceitar a ver o que não nos agrada. As influências acham uma abertura para nos dominar e dirigir nossas vidas através de nossas intenções que é fruto do nosso nível de ser. Então devemos também observar em nós a nossa real intenção e  não a aparente. Vamos dizer que uma pessoa diz ser contra a violência e que a paz é seu objetivo. Ela ao sair de casa pega a arma e coloca na cintura para ir falar com alguém sobre uma situação a ser resolvida. A intenção podemos notar mesmo que a pessoa afirme que quer somente falar. Uma outra pessoa diz que vai ao Shopping somente ver as vitrines e leva dentro da bolsa o talão de cheque e dinheiro. Nisso podemos ver que aquilo que a pessoa se propõe é apenas a máscara de sua real intenção. Uma pessoa que está no trabalho de Gurdjieff deve perceber as intenções externas das pessoas e as suas próprias para não se enganar com o Trabalho. E nada é mais ofensivo para nós do que não podermos esconder nossas reais intenções perante as pessoas se estas  intenções não são dirigidas a acordar e sim a fazer a pessoa a continuar a ser a mesma que sempre foi.
A intenção é o que nos dirige, mesmo que não façamos o que queremos no momento, mas assim que surge a oportunidade a pessoa mostra o que sempre foi: uma pessoa que não quer acordar. Em nosso caso devemos sempre e em todas as situações ter a intenção de ver, acordar e se conhecer cada vez mais. 
(27/09/2000)

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